O Ministério Público confirmou a paralisação do Campeonato Paulista de todas as divisões até o dia 30 de março. Essa decisão irá afetar diretamente todas as equipes do estado, mas principalmente os times do interior, que naturalmente já sentem dificuldade em manter os salários de todos os funcionários.
Em março de 2020, quando todas as competições do Brasil foram paralisadas, equipes inteiras foram desintegradas em todo o país. Ciente dessa realidade, Leandro, goleiro e grande destaque da Portuguesa Santista no Campeonato Paulista da série A2, afirma que muitas pessoas mudariam a opinião sobre a paralisação das competições caso soubessem da realidade da maioria dos atletas.
– Pelo fato das pessoas acompanharem somente a Série A, Champions League, Seleção, elas pensam que aquela realidade é de todos os jogadores de futebol, o que não é verdade nem de perto. Qualquer um que pesquisar na Internet vai ver o percentual de salário de jogadores e vai tomar um susto, porque 82% dos jogadores de futebol no Brasil ganham até um salário mínimo. As pessoas pensam que todo jogador ganha salário de Neymar – disse Leandro.
Os dados que o goleiro da Briosa comentou é verdade nas contas da CBF. Em um relatório divulgado pela Confederação em 2016, é afirmado que 82,40% dos jogadores de futebol no Brasil ganham no máximo 1000 reais, enquanto 0,28% ganham acima de 100 mil reais.
Por enquanto, o futebol ficará 15 dias parado, diferente de 2020, quando a maioria das competições chegaram a ficar quatro meses na geladeira, situação que causou um reboliço no esporte de todo o Brasil. Leandro não esconde o medo de acontecer uma nova paralisação por longo período.
– Se parar igual ano passado, para mim é desesperador, é quase um decreto de falência. Quatro meses sem receber, essa foi a minha situação ano passado. Minha última partida antes da parada foi em 14 de março de 2020, depois fiquei abril, maio, junho e julho parado. Vivi do dinheiro que meu ex-clube conseguiu me pagar até março, mas tive que utilizar toda a minha reserva também, não foi fácil – afirmou.
Apesar de toda a dificuldade enfrentada, vários jogadores passaram por situações piores que a de Leandro. Alguns tiveram que mudar totalmente de vida, outros buscaram algum trabalho temporário até a volta das competições. Nas situações mais extremas, jogadores foram demitidos de seus clubes sem receber meses de salário. Emocionado, Leandro se lembrou de um de seus colegas de profissão.
– Tenho amigos que passaram por sérias dificuldades. Um amigo meu começou a vender salgados, outro virou motorista de aplicativo. Tiveram que fazer o que dava para fazer para poder se virar nesses quatro meses até poder voltar a trabalhar, voltar a jogar. Para mim, uma nova pausa dessas seria muito difícil, tenho bastante medo, justamente por essa realidade que as pessoas desconhecem, de a grande maioria dos jogadores receberem salário o suficiente para pagar as contas essenciais – comentou o goleiro.
A Federação Paulista de Futebol (FPF) continua tentando manter suas competições em atividade, mas todas as tentativas estão sendo recusadas pelo Ministério Público. Em uma reunião realizada ontem (18) com clubes do estado, ficou decidido que não será tomada uma decisão de ir à justiça em busca de uma medida liminar para continuar as competições. Dos quatro grandes, só o São Paulo foi a favor de lutar contra a decisão do Governo do Estado.
Leandro afirma compreender o momento que o país vive, mas frisa que o futebol é uma das profissões mais seguras do Brasil devido às providências tomadas na rotina dos atletas.
– Lamento muito essa paralisação. A gente entende o momento difícil que o país atravessa, o número alarmante que o país apresenta quanto a covid-19, mas não sou de acordo com essa decisão que o Governo de São Paulo tomou junto ao Ministério Público, justamente pela falta de critérios científicos e médicos que comprovem que o futebol não é seguro. Aqui a gente se cuida ao extremo, tomamos todas as providências. Fazemos exames semanais, temos toda uma restrição diariamente. Não tem torcida no estádio. Só me resta pedir a Deus que essa paralisação não se prorrogue – disse.
Além de todos os fatos mencionados pelo goleiro, uma parada prolongada do futebol traria uma lamentação ainda maior ao jogador. Leandro vive grande momento na carreira. O camisa 1 da Briosa é o grande destaque da equipe no Campeonato Paulista da serie A2. Na estreia da competição, pegou um pênalti nos acréscimos contra a Portuguesa de Desportos, além de fazer bons jogos na sequência do campeonato. O jogador faz um apelo pela continuação do estadual e menciona o que vive dentro da própria casa.
– O futebol irá parar enquanto os ônibus os metrôs continuam lotados. Para jogarmos, temos toda uma estrutura. Como eu disse, fazemos exames semanais, existe todo um cuidado extracampo. Aí olho para dentro da minha própria casa, onde minha noiva, que trabalha em mercado, precisa pegar um ônibus e um trem em São Paulo. Vai sempre pendurada, dificilmente vai sentada, pois estão sempre lotados. Quer dizer, no meu trabalho estou bem mais protegido do que dentro da minha própria casa – finalizou. (Globo Esporte)