O diretor de Logística do Ministério da Saúde, general Ridauto Fernandes, disse nesta quinta-feira, 18, em audiência da Comissão Temporária da Covid-19, que existe risco de faltar oxigênio medicinal especialmente em pequenos hospitais e municípios interioranos. Ele pediu que o Congresso e Governo negociem uma mudança legislativa com urgência, para que as grandes empresas produtoras não se recusem a abastecer carretas de envasadores que atendem principalmente cidades do interior.
Ele explicou que existem carretas de produtores da Amazônia que esperam há dias a produção de oxigênio do interior do Maranhão, em uma unidade industrial. Citou também os envasadores do Paraná, que chegam às plantas sem conseguir abastecer. Em Curitiba, as carretas são obrigadas a se deslocarem para São Paulo e Rio de Janeiro, um percurso muito mais oneroso, com perdas do produto.
“Na hora em que chega para envasar os cilindros, há muito mais cilindros para envasar, e ele não dá conta de envasar o que precisava. Aí o pequeno hospital fica com problemas” — detalhou o general.
Fernandes propôs ao presidente da comissão do Senado, senador Confúcio Moura (MDB-RO), iniciar imediatamente as negociações, na busca de uma solução para o gargalo legislativo. Ele sugeriu que o Congresso vote dispositivo que permita às empresas desenvolverem essa atividade, e dê ferramenta para que as grandes produtoras recebam as carretas, e não as recusem. “Se não chegarem à ponta, nas UPAs e pequenos hospitais, teremos mais mortes” — acrescentou Fernandes.
Ao avaliar a situação, o relator da Comissão Temporária Especial do Senado, Wellington Fagundes (PL-MT), considerou que é preciso agilidade por parte do Governo para sanar os inúmeros problemas que estão gerando a crise sanitária e hospitalar no Brasil, com o agravamento da transmissão da Covid-19. Ele voltou a pedir a presença do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na Comissão, para que sejam excluídas dúvidas sobre UTIs, vacinas, medicamentos e também sobre a falta de bloqueadores e sedativos para atender nos hospitais os pacientes que precisam ser intubados.
“Se tivermos que ouvir o novo Ministro amanhã, aqui estaremos prontos, ou hoje ainda, se for o caso. Basta ele se dispor e entender o momento em que o Brasil vive. A angústia e o medo que pairam sobre as famílias. Não temos tempo a perder” – disse Fagundes.
Desafio logístico
Da audiência pública também participaram representantes das maiores empresas produtoras de oxigênio medicinal. Rafael Montagner, da Air Products, resumiu o desafio estrutural que o setor vem passando, devido ao agravamento da pandemia. Segundo ele, uma das grandes dificuldades que existem é a falta de previsibilidade ou programação para que a empresa possa se planejar.
“Há desafios de produção, distribuição e estocagem local. As estocagens são projetadas com o consumo esperado de cada um dos hospitais, mas quando o consumo aumenta abruptamente, há uma pressão descomunal em toda a cadeia distributiva. Há hospitais que multiplicaram em 7, 8, 10 vezes o consumo contratado, e isso pressiona toda a cadeia logística” – frisou. O relato foi referendado por Newton Oliveira, da Indústria Brasileira de Gases (IBG).
Gestão centralizada
Para Ciro Marino, da Associação Brasileira de Indústria Química (Abiquim), o Ministério da Saúde precisa centralizar de fato esta logística, para que o setor produtivo se concentre apenas na produção. Isso porque as empresas do ramo têm sido sobrecarregadas burocraticamente pelo assédio de secretarias, prefeituras, agências e órgãos em diversos níveis da administração pública, diante do quadro de incertezas.
A diretora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Meiruze Freitas, detalhou que mecanismos de centralização da gestão da logística relacionada ao oxigênio medicinal devem estar prontos em breve. Isso porque a Anvisa já busca esses dados, que depois serão totalmente repassados ao Ministério da Saúde.