Completando um ano do início da pandemia o Sindicato dos Servidores Públicos da Saúde de Mato Grosso (SISMA/MT) traz o olhar dos trabalhadores sobre como é combater a Covid-19. Nesta segunda-feira, 15/03, o entrevistado é o coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Weldo Ferreira dos Santos.

Durante a conversa, o coordenador elogiou os colegas, o SISMA/MT, setores da sociedade civil organizada e a própria Secretaria de Estado de Saúde (SES/MT), pela atuação na pandemia e revelou que tem apenas um desejo para este ano, “Só espero que eu não tenha mais que organizar cortejo”. O SAMU perdeu dois membros da equipe em decorrência da Covid e chegou a ter 57 profissionais infectados ao mesmo tempo, em 2020.

O SAMU atua em 13 bases na Capital e mais 13 em municípios do interior do Estado. São 282 profissionais ao todo e 201 nas ações de resgate, em contato direto com os pacientes.

“Em meio a tanta tragédia, conseguimos mostrar que a saúde pública é eficiente. Se não tivesse o SUS, hoje, essas 270 mil mortes seria três vezes mais. Sinto-me orgulhoso por ser profissional do SUS há 22 anos, e ver todos os colegas se doando e levando essa esperança para a população. Apesar de um serviço fundamental é desassistido pelos políticos como um todo”, ponderou Weldo Ferreira.

“É difícil ainda ver líderes dando exemplo de descrença na ciência e sendo replicado pelas pessoas, é entristecedor ver que a população não está colaborando para combater a proliferação do vírus, e isso nos faz acreditar que os meses de março e abril serão os piores da pandemia, ano passado foi uma marola, esse ano será uma onda gigante”, completa.

O coordenador do SAMU conta que a questão dos infecto contagiosos é uma realidade para quem trabalha no socorro, em contato com doenças como tuberculose e meningite, mas nenhuma causou tamanho desastre. E o grande desafio para o SAMU é o mesmo da sociedade, o grade índice de contaminações.

“Os profissionais se assustaram com a rápida disseminação do coronavírus. Atualmente, não fazemos 10 ou 12 traumas por dia, como antes, mas atendemos dois pacientes de Covid e ficamos quatro, às vezes cinco horas com ele no resgate porque o sistema está colapsado, não existe vaga. Está pesado psicologicamente, é muito desgaste, temos colegas que desenvolveram ou pioraram a depressão e a síndrome do pânico, e lutamos todos os dias para manter o serviço funcionando para a população”, contou o coordenador do SAMU.

Pandemia

Weldo Ferreira assumiu a coordenação do SAMU em fevereiro de 2020. Naquele momento, o serviço estava em transição para ser administrado pelo Corpo de Bombeiros Militar, com isso, cerca de 70% da equipe seria desligada. Processo que foi revertido com o apoio do SISMA e de deputados estaduais, em articulação junto ao Governo do Estado.

“Passávamos por um stress tremendo, e mesmo com a notícia da pandemia, não acreditávamos que ela chegaria ao Brasil, em Mato Grosso tão potente o quanto está sendo hoje. Tivemos que aprender a trabalhar com a pandemia em andamento”, lembra.

O coordenador conta que foi um momento permeado por dúvidas e inseguranças, não havia informações concretas ou equipamentos de proteção individual (EPI), ainda assim, era preciso passar segurança pra equipe. “Mesmo um ano depois ainda é muito novo”, completa Weldo Ferreira.

O coordenador do SAMU lembra que o SISMA e a Fecomercio doaram EPI´s para garantir a segurança dos profissionais durante o atendimento. “É preciso também reconhecer o esforço da SES, que fez uma contratação emergencial, vacinou 100% dos profissionais do SAMU e garantiu os equipamentos de proteção necessários, isso nos deu forças para continuar a luta”.

Todo esse cuidado refletiu na redução dos casos de afastamento pela Covid na equipe do SAMU. “Tenho também que parabenizar a minha equipe. Todos profissionais, inclusive os médicos, escolheram ficar aqui, mesmo sob risco de contaminação e com perdas financeiras se comparado ao valor de plantão de outros locais. Como gestor tenho orgulho desta equipe, mesmo acima do limite, conseguem fazer a diferença na vida das pessoas. Como soldados do SUS, a nossa esperança é hastearmos a bandeira na vitória desta pandemia”, finaliza.