morte do deputado estadual Silvio Fávero (PSL), de Mato Grosso, acendeu uma polêmica entre veículos de comunicação online no estado. Estes, que lutam pela audiência mais pelo furo, o sangue e o luto que a análise, a notícia correta e precisa. Aliás, textos são refeitos e títulos alterados ao prazer dos autores, na velocidade da internet, diferentemente do papel, onde só se imprime a errata no dia seguinte.

A discussão no início da tarde deste sábado (13) era sobre se o deputado tinha morrido ou não. Pelo menos três grandes veículos haviam noticiado o óbito. A assessoria e o próprio hospital onde ele estava internado (Amecor), negavam. O deputado Eduardo Botelho (DEM), primeiro secretário da Assembleia de MT, divulgou um áudio dizendo para se controlarem, pois não havia a confirmação factual.

O estado do deputado, ao meio dia, era considerado ‘crítico’ de acordo com boletim médico. O parlamentar estava internado desde a quinta-feira da semana passada (4). Segundo a assessoria, o quadro de saúde se agravou nesta madrugada. Os boatos já davam conta de infecção generalizada e morte cerebral. O problema central e emblemático, é que a sociedade se pauta mais por veículos sérios e fontes seguras do que por boatos de whatsapp, e indo lá conferir, lá estava a notícia dada: O deputado havia falecido para a imprensa, mas a própria família não havia sido avisada oficialmente pelos médicos.

Há aí uma crueldade monstruosa na ânsia de noticiar a morte. Primeiro a busca pelo furo em cima de um infortúnio, uma desgraça. Até que ponto isso vale a pena, quais são os limites éticos. Sabendo o jornal que a pessoa está ‘nas últimas’, dizer que já atravessou o lago do balseiro, antes mesmo da família ser informada pelos médicos, e depois ficar torcendo para ele morrer para provar que sua notícia estava correta?

Sites de notícias periféricos, esses que vivem de copiar e colar notícias, e surgem aos borbotões, sempre acompanham a meia dúzia jornais online já consagrados, e estes quando dão mau exemplo, também são seguidos, o que torna a imprensa tão tóxica quanto os memes de whatsapp. E o que se viu foi quase uma torcida para que o deputado morresse e sua notícia não tivesse errada. E teve quem comemorou com um indisfarçável: “Não falei?!!!”.

Há um caminho alternativo a isso, especialmente nesses tempos de tantas angústias, dores e sofrimentos com a pandemia do coronavirus, aliás, o único caminho: noticiar. Se não morreu, não houve confirmação, a pior coisa é dar o chute e torcer para acertar, o que se torna tão vil e fúnebre quanto o interesse irracional pelo clique e audiência.

Leitor é algo sagrado, que se cativa, se respeita, e quando se entra nessa de chamar sua atenção a qualquer custo, o resultado é a mudança na barrinha de endereço. Não tem outra, se a imprensa respeitável falha, perde toda a mídia, e contamina as redes sociais com o que, por falta de nome melhor, ainda chamamos de ‘fakeNews’.

Sejamos prudentes com nossas informações, quaisquer que sejam elas. A imprensa séria ainda, e somente ainda, exerce um papel preponderante na sociedade. Não joguemos fora o pouco que resta num mundo virtualizado onde cada smartphone é um blog ou um site e cada conta de whatsap e facebook um jornal particular cujo editor é, na maioria das vezes, apenas o dedo indicador de quem o manipula.

Em tempo: O deputado Silvio Fávero veio a falecer por volta das 14 horas deste sábado. Com 54 anos, deixa esposa, filhos e netos.

*MUVUCA JOSÉ MARCONDES NETO  é jornalista em Mato Grosso. É fundador do portal de notícais Muvuca Popular.

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