O IBGE publicou ontem (3) os dados da atividade econômica do Brasil no trágico ano de 2020. O PIB do país teve queda de 4,1%. Bem menor que as estimativas iniciais do mercado, de organismos internacionais e do governo, mas muito maior do que o país pode suportar. O péssimo desempenho da economia levou o Brasil à posição de 11ª força econômica mundial. Entre 2008 e 2010, o Brasil chegou a disputar a 8ª posição nesse ranking mundial.O país vem de um pífio crescimento de 1,4% em 2019 e uma longa recessão de 2015 a 2017. O tombo de 2020 foi o maior, desde 1990.
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Naquele fatídico ano, sob o governo de Fernando Collor de Mello, tivemos o famigerado Plano Collor que derrubou o PIB em 4,35%. A retração econômica registrada no ano passado consolida o período de 2011 a 2020 como a pior década econômica da nossa história. Mais uma década perdida.
Fenômeno global, a pandemia da covid-19 derrubou a economia mundial em proporções jamais vistas em períodos de paz. Mesmo que não nos sirva de consolo, registre-se que algumas economias desenvolvidas tiveram quedas maiores que a brasileira, pois foram mais rigorosos ao decretarem isolamento social e lockdown. Na Espanha, a queda foi de 11%, na Inglaterra, 9,9%, França 5,4% e Alemanha 5%.
Análise mais detalhada dos números mostra que o setor de serviços, que depende de interação e mobilidade, caiu 4,5%.A indústria,que se reinventou para manter o país abastecidode bens, teve retração de 3,5%, comdestaque para os produtos alimentícios, farmacêuticos e material de limpeza. Apenas a agropecuária teve crescimento de 2%. Foi muito beneficiada por safras recordes de grãos, preços internacionais em alta, câmbio favorável, expansão das exportações e aumento do consumo de itens de alimentação no mercado doméstico durante a pandemia.
Fatores relevantes para que a retração fosse bem menor do que se vislumbrava inicialmente foram a transferência de renda executadapela administração federal por meio do auxílio emergencial, os financiamentosde capital de giro das empresas, o programa de compensação para proteção do emprego formal e repasses financeiros feitos aos estados e municípios para compensar quedas de receitas tributárias. De todos, o mais importante foram os R$ 293 bilhões entregues a 67 milhões de pessoas fragilizadas pela crise sanitária que contribuíram, decisivamente, para manter as pessoas em casa na primeira fase da pandemia e estimular o consumo, notadamente de produtos de alimentação, serviços residenciais, farmacêuticos e materiais de higiene e limpeza. Somente em Mato Grosso, foram liberados R$ 4,96 bilhões para 950 mil pessoas. Ajudou a reduzir os impactos econômicos nocivos que a crise sanitária apontava e salvou vidas.
O Banco Central também deu sua contribuição, fazendo sua tarefa de casa.Mantevea taxa básica de juros em 2%, estimulando o crédito, mesmo num ambiente de aceleração da inflação.Foi outro componente importante para arrefecer os impactos da crise sanitária na atividade econômica, juntamente com a aprovação, pelo congresso nacional, da lei que dá autonomia àquela autoridade monetária.
O ano de 2021 apresenta-se desafiador.Exige liderança nacional que faltou em 2020 e definição clara dos rumos da política econômica que precisa ser apontadae implantadapela equipe econômica. Avançar na vacinação da população, renovar imediatamente o auxílio emergencial e aprovar no congresso nacional as reformas econômicas, tributária e administrativa são ingredientes imprescindíveis para redução das incertezas políticas. Atitudes canhestras como a intervenção na gestão da Petrobras e do Banco do Brasil atuam na contramão e ajudam a aumentar a desconfiança sobre o futuro econômico do país,aoenfraquecer a posiçãodo ministro da economia. A consequência vem a galope sob a forma de elevação do risco de crédito do país, fuga de capitais, aumento dos juros de longo prazo e desvalorização da moeda nacional frente ao dólar, afetando muitas cadeias produtivas, aumentando custos industriais e pressionando a inflação.
*VIVALDO LOPES DIAS é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP
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