A realidade é única para cada pessoa, mas a verdade é senhora do tempo, do espaço e da vida, impossível escapar dela. Devido a isso, algumas pessoas vivem dentro de bolhas cujas informações são seletivas e direcionadas. Para estas, vale até a mentira como afugento para combater as verdades não desejadas. É assim na política, na religião e no futebol, onde para muitos só vale os contos que cabem dentro da própria bolha onde se encontra os iguais que professam a mesma fé.

Platão, na metáfora do mito da caverna, define a realidade como sendo composta de dois domínios: o das coisas sensíveis e o das ideias. Para ele, a maioria da humanidade vive na infeliz condição da ignorância, ou seja, vive no mundo ilusório das coisas sensíveis, as quais são mutáveis, não são universais e nem necessárias e, por isso, não são objetos de conhecimento e sim da ilusão.

Para alguns vivemos o pós-verdade. Mas a realidade é que vivemos os causos da bolha para a bolha. Não importa se verdade seja, o importante é que ao final eu possa sacrificar o que eu desejo destruir. Para este, quem está fora da bolha não merece viver, ou melhor, tem que morrer. E o veneno letal é a inverdade; a Fake News, o pré-julgamento!

O jornalismo informativo e o opinativo começam se enroscar nas bolhas a medida que suas informações ou opiniões não atendam aos desejos de fala da bolha.

 

Isso não é novo, apenas nos dias atuais está intensivo devido a dois fatores: a popularização das ferramentas de comunicação e a ascensão ao poder de pessoas que representam a bolha e a sociedade ao mesmo tempo.

Voltando ao mito da caverna de Platão, podemos afirmar que a superação da ignorância é dolorida, pois para ele o filósofo é aquele que, através de um processo dialético, se liberta das correntes, saindo assim da ignorância para a opinião e, depois, para o conhecimento. Estabelece, portanto, etapas bem definidas e dolorosas.

As guerras civis e as grandes guerras (primeira e principalmente a segunda) foram ascensões das bolhas sobre as demais pessoas, chegaram ao poder. Propagar as verdades inventadas e negar os fatos são apenas alguns dos argumentos corriqueiros daqueles que desejam governar para si mesmo. Isso ocorre em todas as ditaduras, mas também é possível ser visto nas democracias estruturadas ou não.

E antes que alguém pense que é privilégio de um lado da política (direita, esquerda ou centro), é bom avisar que invencionismo retórico ocorre praticamente em todas as militâncias e em boa parte do ativismo, seja ele político ou não. Os exageros e as mentiras são usados para aglutinar as tropas, por isso a primeira vítima sempre será a imprensa.

Dependendo do cargo que o negacionismo estrutural (os que mentem) ocupa, ele encontra multidões para adora-lo nas igrejas. É comum pessoas se tornarem mais importantes que a religião. No futebol, os presidentes de time, torcida organizada e até torcedores “ilustres” constantemente protagonizam por falas para além dos fatos e na política não é diferente. Um bom mentiroso sempre tem vida longa entre seus idolatras. Friedrich Nietzsche já afirmava: “Os erros de grandes homens são mais fecundos que as verdades de pequenos”.

Rene Descarte afirma: “Muitas vezes as coisas que me pareceram verdadeiras quando comecei a concebê-las tornaram-se falsas quando quis colocá-las sobre o papel”. Isto é visto por fora da bolha. A realidade real é diferente das convicções fantasiosas propagadas na bolha.

Não que o jornalismo necessariamente seja uma fonte segura de verdade ou o jornalista seja obrigatoriamente um cara sério e ético. É que a opinião enquanto informação dos fatos por si só já é ácido que corrói a bolha e ameaça as mentiras. E sem a bolha o ignorante é presa fácil do conhecimento. Na política, na religião e no futebol as bolhas, primeiro discriminam, depois machucam e, se não forem contidas, matam! A mentira tem força.

*JOÃO EDISOM  DE SOUZA é Articulista, Professor de Ciências Política, Consultor Político, Gestor de Comunicação, Imagem e Crise, Comentarista político da rádio Jovem Pan – Jornal da Manhã.

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