Na derrota para o Tigres na semifinal do Mundial de Clubes, o Palmeiras exibiu os defeitos que tinha conseguido esconder ao longo de uma temporada vitoriosa. Para além das circunstâncias sobre as quais o clube não tem controle – a maratona insana de jogos, o fuso horário, as restrições impostas pela pandemia –, o time poderia ter feito bem mais em Doha. A análise é do jornalista Martín Fernandez (Globo Esporte).
Faltou coragem ao Palmeiras, faltou ambição. Sim, o Tigres é um rival decente e Gignac é um craque. Mas durante a maior parte do duelo a diferença entre os dois times pareceu ser muito maior do que de fato é. O Palmeiras só tentou jogar depois que levou o gol. Houve momentos em que o Verdão deixou a impressão de estar enfrentando o Bayern de Munique.
A exibição do Palmeiras foi semelhante à da final da Libertadores, com a diferença que o Santos, rival do Maracanã, também abriu mão de jogar na maior parte da partida. Talvez seja motivo de preocupação que certo nível de futebol seja suficiente para ganhar a Libertadores, mas não dê conta de uma semifinal de Mundial. Mas essa é outra conversa.
Nos dois casos ficaram evidentes as consequências do peso exagerado que esses encontros passaram a ter – para torcida, imprensa, o entorno dos clubes, a indústria do futebol toda. Perder uma decisão para um rival ou cair ante um time não-europeu na semifinal do mundial se transformou em sinônimo de vexame, de fiasco. Uma bobagem que envenena o ambiente e faz mal ao futebol, porque estimula seus protagonistas a escolherem o caminho da cautela; não raras vezes, leva ao medo.
A derrota no Mundial não mancha o extraordinário ano do Palmeiras. A final em Doha será a primeira da qual o Palmeiras não vai participar na temporada: campeão paulista, campeão da Libertadores, finalista da Copa do Brasil. Se o calendário do futebol brasileiro tivesse alguma racionalidade, o time poderia disputar o Brasileiro até as rodadas finais.
Com Abel Ferreira na beira do campo e Anderson Barros à frente do departamento de futebol, o clube parece ter encontrado um rumo. Não é uma coincidência que a melhor exibição do time no ano – quando constrangeu o River Plate na Argentina – tenha sido com um meio de campo com média de 20 anos de idade. O caminho foi mostrado ali.
O Palmeiras conseguiu um fato raro na história do futebol brasileiro: passou a usar a base por convicção, não apenas porque secou o dinheiro para contratações. Com o dinheiro das premiações e gente com boas ideias tomando decisões no futebol, o futuro do Palmeiras tem tudo para ser interessante. (Martins Fernandez/Globo Esporte)