Por inúmeras vezes se ouviu que determinada mulher seria ‘louca’. O termo ‘loucura’, bastante pejorativo, sempre foi utilizado para demonstrar um certo descompasso nas ações de alguém. Das mulheres então…
Parar para pensar um pouco é relembrar que toda família, grupo de amigos e amigas, ambiente escolar, e por aí afora, sempre contaram com uma mulher denominada ‘louca’. Olha, é melhor não mexer com aquela mulher, hein, pois de uma hora para outra fica ‘enlouquecida’. Em relacionamentos amorosos então, nem se fala.
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Se formos parar para pensar, as mulheres que sempre receberam essa pecha são aquelas que não aceitaram alguma condição, ou, deixaram de se conformar com humilhações que costumeiramente acontecem com o gênero feminino. A bem da verdade, os homens são chamados assim por motivos diferentes delas. Aos homens o verbete existe ao se questionar alguma ação descabida. Porém, as mulheres são tratadas dessa maneira visando a pessoa, o ser humano. Essa diferença de tratamento é mais frequente do que o imaginado. Duas medidas.
A cultura machista alimenta sobremaneira essas circunstâncias. O circuito que envolve essas ocasiões tem sido gradualmente cativado com o preconceito, fazendo com que elas sejam taxadas com frequência de adjetivos relacionados à loucura. A TPM sempre foi tida como fator a trazer ações indesejadas para as mulheres, como se biologicamente já nascessem com algum distúrbio psicológico.
O termo gaslighting surgiu em 1938 em uma peça de teatro do dramaturgo inglês Patrick Hamilton, onde o marido manipulava a mulher para que ela pensasse estar perdendo a razão. Segundo o enredo, o companheiro teria sabotado as luzes do apartamento, fazendo com que apagassem e acendessem sem que ninguém tocasse em nada, para que a companheira imaginasse estar ficando alucinada. O vocábulo passou a ser utilizado desde a década de 70 para caracterizar fatos onde ocorrem manipulações do homem contra a mulher no mesmo sentido.
A ‘Síndrome de Oslo’ acaba sendo vislumbrada em alguns fatos. A violência doméstica e familiar, por se constituir em um ciclo onde ela é atacada e acariciada, possui o condão de a confundir. As mulheres vítimas acabam crendo que os carinhos do companheiro são suficientes a ‘apagar’ os eventos lamentáveis de agressões que elas passam, com um simples: “Você é tudo em minha vida!”. Assim, elas se culpam e questionam memória, percepção, capacidade etc. Quando novas ocorrências acontecem, elas percebem que foram ludibriadas em seus sentimentos.
Qualquer mulher, e, em qualquer local ou circunstância, pode se tornar passível desse sofrimento. O desígnio é desestabilizar, confundir e desorientar a vítima. Existem situações onde é crível, inclusive, perceber certa dependência emocional entre a vítima e o seu agressor.
Elas podem acabar experimentando doenças e transtornos até que aconteça o diagnóstico. Prestar a atenção nas conjunturas, fazer algum tipo de registro, são formas de lidar com o abusador, saindo das agressões.
O maior sofrimento que as vítimas enfrentam é a incredulidade. As feridas e marcas podem ficar por algum tempo. Todavia, existe vida após violências…
*ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública em Mato Grosso.