O noticiário deste ultimo final de semana do mês de janeiro de 2021 expôs para todos os interessados o confronto entre a delegada da Mulher de Cuiabá Nubya Reis e a advogada Wellen Lopes. Bem sei que a maioria das pessoas estava ligada no confronto entre Santos e Palmeiras, pelo titulo das Libertadores. Ou no confonto entre Emanuel e Mauro Mendes, pelo destino do VLT e da política em Cuiabá. ( Evito pensar naqueles pascácios que se deixam se envolver e se interessam pelos confrontos comerciais do Big Brother Brasil).
Vejam que a titular da Delegacia da Mulher, que deveria zelar e proteger os interesses das mulheres, resolveu voltar seus canhões contra uma advogada mulher e apresentou, perante o juiz João Bosco Soares, da 10ª Vara Criminal de Cuiabá, uma queixa crime contra a Wellen Lopes.
O que a advogada fez para despertar, ao que parece, esse desejo de puní-la? Mergulhando nos dados deste processo, a gente vê que Wellen qyestionou as atitudes da policial quando colocada para presidir os inquéritos contra o jornalista Leonardo Heitor que fora acusado, por nada menos que 10 mulheres jornalistas, de importunação sexual e até mesmo de estupro.
Estupro, violência contra a mulher. O caso do Leonardo Heitor é daqueles que impacta fortemente a sociedade. Ainda mais uma sociedade como a nossa, a mato-grossense, onde o machismo impera e as mulheres são mortas como moscas. O jornalista Leonardo Heitor virou, instaneamente, uma espécie de Inimigo Público Nº 1, por grande maioria informada sobre o caso – e principalmente parte das mulheres.
Houve um grande alarde, manchetes em profusão. Imagino um caso desses se fosse tratado pelo Lino Rossi, nos tempos mais selvagens do Cadeia Neles. O incentivo seria para se caçar o Leonardo nas ruas, feito uma ratazana prenha. Voces se lembram que o Lino fez fama como uma espécie de vingador da sociedade, clamando, certa vez, para que se supliciasse um estuprador na prisão? A memória é que faz a História – e ainda não apareceu ninguém com coragem suficiente para contar, detalhar e analisar o que esses programas policialescos já fizeram em defesa do rebaixamento moral de nós todos, em meio à conturbada rotina do jornalismo mato-grossenses. Nossos historiadores, sociólogos, antropólogos, são tímidos, para se dizer o mínimo.
Que Leonardo Heitor tenha cometido possiveis crimes contra o grupo de 10 jornalistas, tudo mal. Ele precisa ser punido no rigor da Lei. Escolhida para a defesa desse Inimigo Público Nº1, a advogada Wellen Lopes, me parece, passou a zelar, então, pelo fiel cumprimento da Legislação em vigor em relação ao seu representado. Essa foi a sua postura e parece que aí esta o grande problema.
Como é que uma advogada mulher se dispõe a defender um homem que é acusado de importunar sexualmente e até mesmo estuprar um grupo enorme de colegas jornalistas? Wellen passou a ser duramente questionada sobre isso.
Contra tudo e contra todos, Wellen lutava aqui por aquilo lhe ensinou a Faculdade de Direito e que está na Constituição e em nossa Legislação: o dever do advogado é zelar para que seu representado, qualquer que seja o crime de que é acusado, seja submetido ao devido processo legal. Sim, até mesmo um pretenso estuprador tem direitos porque, até que a sentença seja prolatada, com bases em fatos e provas alinhadas, ele é só um pretenso estuprador.
Daí que, diante de determinadas atitudes da senhora delegada Nubya Reis, a advogada Wellen Lopes achou que era conveniente gritar: Pera lá! Isso tá errada, extrapola os limites legais!
O que aconteceu? A advogada entendeu que a delegada estava promovendo um “processo midiático” contra seu cliente, através da mídia, e usou a mesma mídia para questionar a delegada, em nota pública.
Quem é que tá certo? A delegada ou a advogada? Ora, diante deste confronto, deste embate, desta dúvida, quem é chamado a decidir, como manda a Lei, é o Poder Judiciário. Wellen Lopes, em nome de Leonardo Heitor, apresentou um pedido de investigação contra Nubya Reis, na douta Corregedoria da Policia Civil de Mato Grosso. O pedido foi acatado e pode, mais adiante, se desdobrar em ações judiciais, a depender do resultado das apurações.
Depois que a advogada levantou a lebre contra as pretensas irregularidades cometidas pela delegada da mulher, a delegada também se mexeu, contratou advogado e não foi à OAB questionar as atitudes da advogada. A sra Nubya acionou diretamente o Poder Judiciário, através do juiz João Bosco Soares.
Ora, quem consulta via Google o noticiário sobre o caso, percebe logo que a delegada Nubya Reis tem contado com um firme apoio de sua corporação, através do Sindicato dos Delegados da Policia Civil, que já emitiu nota em defesa de suas atitudes (Confira abaixo). Nada mais natural que o Sindicato dos Delegados defenda uma delegada que é colocada em xeque.
Mas, quem lê mais atentamente o noticiário e tem capacidade crítica, certamente percebará, diante dos fatos e das movimentações administrativas e judiciais que marcam este caso, que existe uma corporação que vem se omitindo neste episódio.
Sim, eu, Enock Cavalcanti, jornalista e advogado, sou quem pergunto: quando é que a Ordem dos Advogados do Brasil, seccional de Mato Grosso, vai se movimentar em solidariedade à advogada Wellen Lopes?! Falta alguém em Nuremberg! No caso, a corporação dos advogados para promover não só a defesa da advogada Wellen Lopes mas também a própria defesa das prerrogativas de todos os advogados e advogadas de Mato Grosso já que a situação vivida atualmente pela advogada Wellen Lopes pode ser vivida amanhã ou depois por vários outros profissionais da advocacia em nossa capital e em nosso Estado.
Esse fato, essa omissão da OAB-MT ganha destaque quando se sabe e se observa que, muito recentemente, a advogada Wellen Lopes, por iniciativa pessoal, promoveu a produção de um vídeo, com a competente assessoria do publicitário Claudio Cordeiro, para promover a defesa das prerrogativas de todos nós, advogados. Ela fez isso, certamente, pelo imbroglio em que se envolveu desde que passou a defender o jornalista pretenso estuprador. O video circulou nas redes sociais e na mídia de Mato Grosso e vem repercutindo pelo Brasil afora.
Me parece que chegou a hora da OAB-MT ser chamada à responsabilidade.
O que entendo é que a advogada Wellen Lopes não pode ser atacada, humihada e processada pelo pretenso “crime” de, como mulher, defender um criminoso sexual, como alguns parece que tentam fazer crer. Todas as pessoas tem direito de serem defendidas da forma mais competente possível em face das acusações que lhe são feitas no Judiciário. Os advogados existem para fazer este papel. Wellen Lopes existe para defender Leonardo Heitor – e ela parece que tem exercido suas responsabilidades com muito denôdo. Então, que a Ordem dos Advogados do Brasil seccional de Mato Grosso não vacile na defesa das prerrogativas que a Wellen tem de continuar a exercer seu trabalho. Vejam que o Sindicato dos Delegados não vacilou em defender a sua associada, a delegada Nubya Reis.
A busca pela Justiça é uma busca sempre apaixonante e os esforço de todos deve ser para que todos envolvidos neste seja caso tenham a sua mais justa retribuição. Que o jornalista Leonardo Heitor seja responsabilizado por tudo que fez, no rigor da Lei. O mesmo com relação à delegada e à advogada. É a Lei que deve estabelecer os nossos destinos em uma sociedade pretensamente democrática como é a nossa.
*ENOCK CAVALCANTI DA SILVA é jornalista, é titular do blogue PAGINA DO E, em Cuiabá, desde o ano de 2009
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