Existe muita dificuldade em se dar crédito à palavra da mulher, quando o tema é o assédio sexual. Seria real? Teria mesmo acontecido? Qual o interesse dele em fazer isso? Ora, ele sempre foi um homem tão reservado e bom, é casado e tem família.

As mulheres narram, e não precisa de muita retórica para vislumbrar a realidade. Elas podem andar livremente nas ruas sem que sejam insultadas com palavras a mencionar o corpo? Onde? Basta parar em qualquer lugar de circulação de pessoas, sim, qualquer lugar, e ficar a observar. Quando as mulheres passam por homens, dificilmente as cabeças não se viram a acompanhar o caminhar delas. Muitos ‘camuflam’ o olhar com óculos escuros, ou outra forma de tentar esconder a mira do olhar.

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Alguns pouco se importam em olhar maliciosamente, as acompanhando com a cabeça descaradamente. Pouco importa, não é, afinal de contas são ‘machos’ e possuem a obrigação de mostrar a virilidade. Parar nos semáforos e de dentro dos carros ficar a observar como os homens se portam quando as mulheres andam, é presenciar até mesmo acidentes de trânsito em razão dos olhares mal-intencionados deles para com elas.

 

Sabemos o quanto é comum mulheres a tentar modificar a forma de se vestir para não ‘chamar a atenção’. Algumas preferem a introspecção para evitar qualquer coisa. “Prefiro ser chamada de mal-educada do que ser confundida. ” Transitar em locais com aglomerado de pessoas é, muitas vezes, ser ‘encoxada’, receber passadas de mãos pelos seus corpos, expressões sobre o corpo, e por aí afora…

 

Foi mencionado algo acima de que as pessoas, homens e mulheres, não tinham conhecimento? Pois é, se os fatos acontecem contra elas em qualquer lugar, e diante de qualquer pessoa, o que não é provável acontecer quando um homem está sozinho com uma mulher? É difícil mesmo acreditar na palavra delas?

 

Porque juridicamente a palavra da mulher vítima em delitos sexuais tem grande valia? Crimes sexuais costumam acontecer a qualquer hora e em qualquer lugar. Quando no local existe a possibilidade de ficar ‘a sós’ com a vítima, o agressor não perderá a oportunidade.

 

Esses delitos sempre aconteceram contra elas. Agora, porém, começaram a ser enfrentados. Não deve haver qualquer tolerância com essas questões. A história não foi, e nem tem sido justa com as mulheres. O momento é o ideal para se mostrar respeito e credibilidade para com elas.

 

O corpo da mulher sempre foi tratado de forma diferente do corpo dos homens. Enquanto eles possuem direito total sobre as suas carcaças, elas lutam diariamente para poder decidir sobre algo que se teimam em dizer ser propriedade alheia. Corpo público.

 

Como falar de democracia, se um não tem sido igual a uma? Elas ‘patinam’ para que as leis que as beneficiam sejam aplicadas literalmente em prol delas, sem qualquer questionamento. Onde está escondido o princípio da dignidade da pessoa humana, sem uns tem o direito de ser mais ‘dignos’ que outras?

 

Que nenhuma mulher perca a resistência, enquanto os assédios persistirem…

 

*ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública em Mato Grosso.

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