Depois do Guarani ir para o jogo contra o Cuiabá com 13 jogadores devido a um surto de coronavírus que atingiu o elenco, o presidente bugrino, Ricardo Miguel Moisés, concedeu uma entrevista coletiva nesta sexta-feira para falar sobre a situação.

De acordo com o cartola, a realização do jogo foi “equívoco”. O Bugre chegou a pedir o adiamento da partida para o dia 27 de janeiro, mas a CBF se dispôs a mudar apenas para esta sexta-feira. Diante do cenário, o Alviverde optou por levar o volante Lucas Abreu, apenas 3h antes do jogo, para a capital mato-grossense, para que o Bugre pudesse ter o mínimo de 13 atletas, exigido pelo protocolo da CBF.

– Eu acho que após o jogo fica mais fácil falar, e ficou claro que os atletas do Guarani não tinham condições de realizar o jogo. Mas acredito que houve um equívoco e que se fosse reanalisado, seria adiado para o dia 27 conforme a solicitação do Guarani.

O presidente do Guarani disse ainda que considera dúbio o trecho que diz que um clube deve ter 13 atletas disponíveis para a partida. O clube tinha apenas 12 em Cuiabá, local do jogo – por isso a necessidade da viagem às pressas.

Ricardo Moisés, presidente do Guarani — Foto: Thomaz Marostegan/Guarani FC

Ricardo Moisés, presidente do Guarani — Foto: Thomaz Marostegan/Guarani FC

Ricardo Moisés evitou críticas diretas a CBF, mas defendeu que agora os protocolos sejam revisados, tanto de olho no Campeonato Paulista 2021, quanto no próprio Campeonato Brasileiro.

– Com certeza. Vai haver o congresso técnico do Campeonato Paulista, e esses pontos têm que ser debatidos entre todos os clubes e a Federação Paulista. E até para o Campeonato Brasileiro agora, de 21, a gente precisa evoluir esse protocolo, evoluir o pensamento com relação aos atletas, ao melhor cuidado com eles, para que não exponham eles a situações desumanas como a gente passou. Então, assim, muita sabedoria aos clubes, para que a gente evolua esse protocolo.

Segundo o mandatário bugrino, o período de 10 dias não é o suficiente para a devida recuperação dos jogadores.

– Esse protocolo, debatido entre os médicos de todas as equipes, mas por se tratar de um fato novo e desconhecido, eu acho que o conhecimento dos clubes e da própria CBF vem evoluindo. Então hoje a gente tem ciência de que um atleta com 10 dias não está apto a jogar. Ele pode não transmitir mais o vírus, mas ele não está apto para uma competição, para um jogo oficial. Então acho que os clubes têm que sentar junto com a CBF, debater novamente esse modelo que foi pactuado, para que os atletas possam, após esses 10 dias, ter mais cinco dias para recuperação física e readaptação. Hoje, a gente vê claramente que 10 dias não são suficientes.

Com a derrota por 4 a 0 para o Cuiabá, o Guarani viu as chances de acesso ficarem ainda mais distantes na Série B. O Bugre aparece na 9ª colocação, com 48 pontos, e pode ver a distância aumentar com o andamento da rodada.

– A Covid-19 atrapalhou sim o desempenho do Guarani, não só nesse jogo, como em alguns outros jogos que o Guarani jogou também desfalcado, mas não podemos atribuir 100% dessa possibilidade de não classificação a esse jogo – disse Moisés.

Veja outros pontos da entrevista com o presidente do Guarani:

Explosão de casos nos últimos 20 dias:

– A gente tem uma ideia de como isso começou. A gente foi para São Luís, no Maranhão, fazer o jogo contra o Sampaio Corrêa, no dia 23, e o retorno seria no dia 24, com a chegada dos atletas por volta das 22h, na véspera de Natal. Diante dessa situação, a gente optou por dar descanso para os atletas no dia 25, e reapresentação no dia 26.

– Alguns atletas partiram direto de São Luís para as suas residências em outros estados, e a gente acredita que, a partir daí, começou o surto de Covid no Guarani. Eles retornaram, fizeram a reapresentação no dia 26, trabalhando para o jogo no dia 2, e o exame foi realizado no dia 30, onde a gente teve os primeiros casos de Covid aqui dentro do Guarani.

Como foi o dia antes do jogo:

– Ontem, quando eu cheguei no clube, logo pela manhã, eu fui comunicado pelo departamento de futebol dos testes positivos de alguns atletas. Imediatamente a gente fez um requerimento para a CBF pedindo o adiamento do jogo para o dia 27. Ainda durante a manhã, por volta do meio dia, chegou a confirmação de mais dois casos, que eram do atleta Matheus Souza e do Giovanny. E aí, diante de toda essa situação, entramos em contato com a CBF, explicamos todos os motivos, que só tínhamos 12 jogadores concentrados em Cuiabá, e aí a gente fundamentou todo o pedido de adiamento do jogo.

– Em conversas com a CBF, eles mencionaram que só haveria a possibilidade de alteração da data do jogo de ontem para hoje e não para o dia 27, que era a solicitação do Guarani.

– Em conversa com o departamento de futebol, os próprios atletas, treinador, os atletas que foram detectados e estavam concentrados queriam retornar para casa o mais rápido possível, para ter os cuidados de família, os cuidados médicos adequados e não permanecer mais na cidade de Cuiabá. Então, conjuntamente, o Conselho de Administração e o Departamento de Futebol optaram por esse sacrifício que o Lucas Abreu fez, de passar um voo de duas horas, de chegar em cima do jogo, em prol da coletividade, de todo o elenco, e de diminuir o sofrimento que esses atletas estavam em Cuiabá.

– O Guarani sabia que o elenco não tinha condições de apresentar um futebol adequado em uma reta final. Vários atletas retornando de Covid na data de ontem e sem condições físicas adequadas. Por isso a gente pediu o adiamento do jogo, explicamos, justificamos, mas não obtivemos êxito nessa solicitação. Então por isso que o jogo foi realizado. Não era vontade do Guarani, mas infelizmente a gente não teve êxito no nosso pleito.

Jogo contra o Cuiabá:

– Vamos se dizer que se fosse melhor avaliado, o jogo seria adiado e teria evitado até situações, como a gente viu, do nosso lateral-esquerdo, o Erick Daltro, passando mal ao final do jogo. Acredito que hoje, diante de tudo que aconteceu, caso ocorra novamente situações assim, vão ser melhor avaliadas.

– Isso é um grupo mesmo de vencedores. Eu enalteço demais o trabalho dessa comissão técnica e dos jogadores. Ontem eles demonstraram de forma clara que são guerreiros e que honram a camisa do Guarani acima de tudo. É muito bom trabalhar com um grupo assim, que valoriza a instituição, que reconhece a camisa e que, mesmo diante de tantas dificuldades, se sacrificaram para honrar os compromissos do nosso clube. (Globo Esporte)