Parece bobagem eleger a palavra do ano. Seria apenas mais uma das muitas insignificâncias que permeiam nosso dia a dia. Só que não. As palavras refletem nossa realidade e o nosso comportamento e, infelizmente, tanto o momento quando o comportamento são seriíssimos (isso mesmo: “seriíssimos”, essa é a forma superlativa correta); pena que a turba não os percebam assim. Dicionários mundo afora elegem, ano a ano, palavras para representar aquele período de tempo. Em anos anteriores, o inglês Oxford “elegeu” termos como “pós-verdade” e “emergência climática”.  2020 foi tão atípico que  importantes dicionários britânicos, como o Merriam-Webster e o Collins, além do Oxford, dividiram-se entre “pandemy”; “lockdown”; “Black Lives Mattar”.

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Tivéssemos por aqui essa cultura, eu votaria em “normal” mas não totalmente conforme preconiza o Aurélio: “De acordo com a norma, com a regra; comum. Que ocorre naturalmente ou de maneira habitual; natural, habitual”; antes, com aquele sentido propalado pelo senso comum de “Tô nem aí; Tanto faz”.

Complicado quando, diante de catástrofes e de atrocidades, parte da população as considerem “normal”. Como achar normal um ministro do meio ambiente defender a devastação de florestas; como dar de ombros com o segundo lugar em mortes pelo Covid-19 e o ministro da saúde sequer ter um plano para vacinar a população, afinal é só uma “gripezinha”, não é? Como corroborar com as atitudes e falas bestiais do “Capetão” do Planalto: “ Vacina obrigatória aqui, só no (cachorro) Faísca”; “ Vamos todos morrer um dia”; “o Brasil tem que deixar de ser um país de maricas”. Não há uma semana na qual o “Capetão” e seus séquitos não insultem a nação brasileira. “E daí”, Jair?

E para os incautos que acham tudo isso “normal” e repetem o bordão “É melhor Jair se acostumando”, eu lhes ofereço Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

*SÉRGIO  EDUARDO CINTRA é professor de Linguagens e de Redação em Cuiabá. Foi Diretor Executivo da Funec. 

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