Na mesma semana em que acolheu o garoto de 11 anos vítima de injúria racial, duas acusações, uma delas de racismo e outra de assédio moral, implodiram nos bastidores do Santos. Segundo reportagem divulgada pela ESPN nesta quarta-feira, dois funcionários de diferentes áreas do Santos relataram os casos ao presidente Orlando Rollo.

A acusação de racismo parte de um advogado do clube contra Roberto Rabelato, gerente de controladoria. De acordo com o funcionário, Rabelato disse “aqui é a senzala” ao vê-lo depois de abrir a porta de uma sala no clube. O gerente confirmou.

– Quando eu cheguei aqui, eu pensei que ia ser diferente. Porém, o Rabelato nunca me deu uma oportunidade. Ficou o tempo inteiro segurando as coisas. Tinha que ser do jeito dele, certo? Eu tenho 33 anos de advocacia, acho que alguma coisa eu entendo. Em nenhum momento tivemos um relacionamento. Ele mal olhava na minha cara, mal dava bom dia e dizia para mim que queria distância. Eu sou homem e não falava nada porque acho que é assim que tem que ser levado – começou o advogado.

– Então estou falando na cara dele aqui, nos olhos dele. Que ele diga aqui que não abriu um dia a porta da sala lá e disse “aqui é a senzala”. Quero que ele diga isso, que não falou isso. Eu fiquei tão estupefato que eu não acreditei. Então quero que ele diga na minha cara que ele tem algum problema comigo por eu ser negro porque eu não acredito nisso. Agora, que ele falou isso na minha cara, ele falou. Mas ele não falou assim diretamente. Ele abriu a porta, olhou e falou ‘ah, aqui é a senzala’. Por que ele fez isso? Não sei. Está engasgado aqui – completou o profissional.

Rollo, que estava presente na reunião, alertou para a gravidade da acusação e prometeu marcar uma reunião com Rabelato. Em áudio divulgado pela reportagem, ele confirmou o que disse ao advogado.

– Procede, sim – admitiu o gerente.

O outro caso, de assédio moral, foi denunciado por uma integrante do departamento de Recursos Humanos do Santos. Ela, assim como o advogado, também é negra. O acusado é Luiz Eduardo Silveira, superintendente administrativo e financeiro.

A funcionária alega ter sido humilhada pelo dirigente. Ela fez diversas cobranças ao presidente Orlando Rollo, que não teria tomado nenhuma atitude após um mês das acusações.

A mulher foi contratada para ser supervisora do RH, mas, em pouco tempo, viu que a realidade seria diferente. Sem maiores explicações, ela acabou realocada por Luiz Eduardo Silveira para a área de marketing.

– (Ele) me colocou em uma mesa no fundo da sala, sem computador, cortou meu acesso ao e-mail e não explicou nada. Desde o começo, eu avisei ao presidente. Falei tudo que estava acontecendo desde o começo e as coisas foram piorando. O Luiz me tirou do RH, me humilhou e continuou me ignorando no clube como se eu não existisse (…) Falou que eu não tinha perfil para ser do RH, não tinha perfil para ser gerente de RH e, muito menos, para ganhar o salário que me foi oferecido. E começou a me humilhar – relatou a profissional.

– Eu perguntei como ele podia falar uma coisa se nem viu o trabalho. E ele continuou a me humilhar. Falou: “Seu salário vai ser esse, não deixei o presidente dar o salário que ele queria te pagar. E vocês não têm direito à moradia, só quem tem moradia é superintendente”. Ele ficou me humilhando o tempo todo – continuou.

Em nota enviada à ESPN, o Santos diz que “decidiu encaminhar o assunto para a Divisão de Inquérito e Sindicância, para apuração do ocorrido e as providências necessárias”.

Tanto Roberto Rabelato quanto Luiz Eduardo Silveira foram contratados recentemente pelo presidente Orlando Rollo, que assumiu o cargo após José Carlos Peres, o ex-mandatário, ser afastado, primeiro provisória e depois definitivamente.

O mandato de Rollo acaba no fim deste ano. Andres Rueda, presidente eleito, que assume o clube a partir de 2021, se posicionou sobre o ocorrido via assessoria de imprensa. Veja a nota:

“O presidente eleito do Santos, Andres Rueda, soube pela imprensa das acusações de racismo feitas entre funcionários do Clube. Aguardamos o posicionamento da atual gestão do Clube e esperamos apurações aprofundadas sobre esses casos de discriminação. Segundo Rueda, “não será tolerado nada nesse sentido e esperamos que providências enérgicas sejas tomadas pela atual gestão”. (Globo Esporte)