O governador do Estado de Mato Grosso, Mauro Mendes, convocou nesta segunda-feira ao Palácio Paiaguás os prefeitos de Cuiabá e de Várzea Grande. Não era para debater assunto algum, só para que fossem comunicados da decisão unilateral que o governador já havia tomado com respeito ao VLT. Um comportamento não de um líder, mas de um chefe antigo, despótico e antidemocrático.

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O governador comunicou que desistiu do VLT e vai implantar outro modal, o ônibus poluente, o BRT. Optou por um modal ultrapassado e incapaz de ser o vetor de um sistema inteligente e moderno. O ônibus não pode mais ser a coluna vertebral como é hoje. É poluentepois, utiliza pneus (petróleo), anda no asfalto (petróleo), movido adiesel, transporta menos pessoas, congestiona o trânsito e mais caro se considerado o preço por passageiro transportado.Hoje, a prefeitura gasta mais de R$ 50 milhões para manter um sistema caótico que massacra os usuários que dependem dessa modalidade de transporte. Aliás, o controle de fluxo de passageiros é feito exclusivamente pelos empresários dos ônibus poluentes, o que não é correto.

É uma decisão trágica por vários motivos. É atrasada e deve ter sido tomadapor interesses que não são confessados no momento, mas muito provavelmente para satisfazer alguns empresários do atual sistema de transportes. É uma decisão que provocará gastos enormes ao Estado, já que trens, vagões, trilhos e sistemas informatizados e eletrificados foram adquiridos e se encontram estocados. Não se vai na esquina e troca tudo por ônibus. Essa decisão precisará ser revisada e alterada no futuro próximo, a custo que ainda não se imagina qual.

O custo financeiro é muito grande. Mas o custo para a sociedadeserá ainda maior. Como cidadão, lamento muito isso tudo. Lamento ainda mais se isso vier a ser descortinado como um processo de corrupção. A certeza é a de que o governador está fazendo um cálculo puramente eleitoral, acreditando nos recursos e apoios para sua próxima eleição. Uma aposta que provavelmente se mostrará frágil e errada.

O governador está indo na contramão das cidades desenvolvidas onde o transporte sobre trilhos, limpo e ecologicamente correto,é prioridade: VLT, metrô de superfície e metrô subterrâneo. O governador fez tudo às escondidas sem debater com a sociedade, o que por si só já aponta a sua decisão para um horizonte sombrio. O governador disse que gastará R$ 600 milhões para implantação do BRT, o que é uma mentira deslavada, pois, o Estado continuará pagando por mês R$ 4 milhões de juros pelo VLT até o ano de 2045. Além do mais, para o término do VLT o governo não gastaria mais um tostão de dinheiro novo desde que fosse por meio de uma Parceria Público Privada (PPP).

Ainda não sabemos como reagirão as lideranças do Estado, os senadores, os deputados federais, os deputados estaduais e o Ministério Público Federal diante dessa decisão esdrúxula sem nenhum fundamento jurídico. Tive apenas um contato telefônico com o deputado José Medeiros e o Senador Jayme Campos que se posicionaram contráriosa decisão do governador. Mas isso poderá ser verificado nos próximos dias ou no imediato depois das Festas de Natal e Ano Novo.

De qualquer sorte, mesmo hoje já verifico uma enxurrada de mensagens nas redes sociais. Todas mostrando uma sociedade indignada com o tamanho desrespeito. Sem debates, sem discussões políticas, sem consultar lideranças e entidades, sem fundamentar sua decisão, quer do ponto de vista técnico, quer financeiro e jurídico. O governador deu um tapa na cara do Instituto de Engenharia,CDL,Femab, Fecomércio, Rotary, o Conselho de Ministro das Igrejas Evangélica, O Arcebispo Dom Milton, e outras lideranças e entidades das mais representativas que sempre apoiaram o VLT.

Mas, isso não significa que abandonamos a causa do VLT. Nós estamos do outro lado da trincheira, do lado do povo e dos bons motivos técnicos para se implantar um modal moderno e não-poluente, nós vamos continuar na labuta por uma decisão que atenda os anseios da sociedade e leve nosso Mato Grosso para o futuro e o retire das mãos despóticas de interesses mesquinhos e duvidosos.

Precisamos encontrar outro modo de governar e de fazer a população participar da governança e da fiscalização dos atos públicos. Olhamos o passado como inspiração e experiência histórica, não queremos que o retrovisor seja a baliza das opções tecnológicas. Olhamos para o futuro como possibilidade de construir uma sociedade com respeito ao meio ambiente, à valorização de nossa juventude, tendo-a bem empregada e qualificada, nossa cultura respeitada e valorizada. Um futuro onde a modernidade esteja ao alcance de todos, a começar na mobilidade urbana de massa.

*VICENTE VUOLO  é economista, cientista político e coordenador do Movimento Pró VLT Cuiabá-Várzea Grande.

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