Um dos líderes do elenco do Flamengo, o lateral-esquerdo Filipe Luís concedeu entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira, no Ninho do Urubu. Sincero, o jogador não mediu palavras ao apontar a saída de Jorge Jesus, em julho, como principal fator para as eliminações da equipe na Copa do Brasil e na Libertadores.

– O principal fator é a saída do Jorge. Time estava dominado, sabíamos a forma de jogar. Tivemos que aprender de novo. Não é culpa do treinador, mas a mudança abala. A defesa passa a jogar de outra forma. Os dois podem ser campeões. Essa foi a principal (razão). Mas a segunda é que nós jogadores somos os culpados. Nós assumimos a responsabilidade de não termos conseguido o objetivo da Copa do Brasil e Libertadores – afirmou Filipe.

Entretanto, com o segundo técnico desde a saída de Jesus – Domènec Torrent foi demitido, e Rogério Ceni assumiu -, o lateral mostrou otimismo numa evolução do time. Para Filipe, a equipe vem apresentando evolução.

– O time vem em evolução grande nas últimas rodadas. É um modelo diferente. Estamos crescendo, com uma solidez maior. Muitos dos gols difíceis de explicar. O Rogério é completo, trabalha todos os aspectos. Linhas, compactações… tudo. Claro que exige um tempo. Há o diálogo e correção com vídeos. Entendemos cada vez melhor para termos a cara do Rogério Ceni.

Como exemplo, o lateral lembrou do jogo com o Racing, que terminou empatado em 1 a 1 no Maracanã e culminou na eliminação do Flamengo na Libertadores. Para ele, o desempenho da equipe foi um dos melhores recentemente.

– Sempre que perde um jogo e é eliminado, só se olham os erros. E eles existiram. O segundo jogo contra o Racing foi um dos nossos melhores, me atrevo a dizer. Dominamos e merecemos vencer. Mas não é simplesmente entrar no campo e não errar. Não vou dar a chave do sucesso para não dar pista, mas a cada dia os erros são corrigidos e ficamos mais sólidos. Estamos melhorando.

Veja outras respostas de Filipe Luís na coletiva:

Comparações com 2019

– A etapa do Jorge Jesus acabou quando ele decidiu ir para Portugal. Triste, porque era um pai, amigo, gestor. Foi traumatizante para o clube. Não importava quem viesse. Foi o Dome, mas poderia ser o Mourinho, Guardiola… Seria questionado. Foi um processo de reestruturação. Nos reinventamos. Não existem dois treinadores iguais. O Rogério veio com ideias novas. Estamos melhorando. Quem é ambicioso só pensa em ganhar o próximo jogo e ser campeão. Pensar no passado atrapalha.

Mudanças de técnico

– Isso é uma coisa que acontece desde que eu jogava no Figueirense, em 2003, 2004. O Jorge decidiu sair. Não é fácil. Como foi o Coudet no Inter. Técnicos são diferentes, tudo é diferente. O São Paulo com Diniz há dois anos está na liderança. Renato no Grêmio é outro exemplo. Dar os parabéns para os clubes que conseguem ter a calma. Agora estamos vendo a evolução do trabalho do Rogério. Mas o futebol brasileiro demonstra que é um dos mais difíceis do mundo. Pressão midiática, de torcida… É o mais complicado. Uma experiência bacana, estou aprendendo muito.

Filipe Luís e Jorge Jesus no Ninho do Urubu — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

Filipe Luís e Jorge Jesus no Ninho do Urubu — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

Renovação de Diego Alves

– Ele é um cara importantíssimo para nós, para o clube. Fez história e continua a fazer. Passou por todas as situações. Desejamos esse final feliz. Não depende de nós. É um acordo entre as partes. O que posso destacar é o compromisso dele. Acho que faltam quatro jogos para terminar, e ele está se dedicando como se fosse o primeiro dia dele.

Churrasco do elenco

– Engraçado isso ser notícia… Esse almoço fazemos todos os meses. Antes do Rafinha já tinha. Ele era importante. Mas o intuito é de expandir aos membros do CT. Limpeza, cozinha… Todos. Nos conhecemos mais. O time já é unido, e pode ficar ainda mais. Eu gostaria de fazer na Gávea também com os sócios (risos). Quem sabe.

Departamento médico

– Primeiro clube que eu passo que o DM tem mais notícia de peso do que dos jogadores. Foi muito falado. Onde passei existiram lesões. Confiamos no Tannure. Foi o responsável ano passado por eu ter uma recuperação milagrosa. Eu, Arrascaeta, Diego… Quando não estão tão bem, ele vai ser o mais cobrado. Houve mudanças, mas ele deve ter mudado buscando a excelência. Acho que estão aqui hoje os melhores profissionais da área. As lesões são inevitáveis. Em todos os clubes do mundo.

Pressão da torcida

– Quando estava na Espanha com o contrato do Flamengo na mão eu já sabia da exigência da torcida. Isso me motiva. Ninguém gosta de ser xingado. Mas a alegria de muita gente depende de nós. Entendemos o protesto. Aqui ninguém relaxa. A obrigação de ganhar é de seis clubes, e só um vai ganhar. Somos obrigados a nos esforçar ao máximo. Sabemos da responsabilidade. O grupo é ambicioso.

Apoio a jogadores criticados pela torcida

– Essa é uma parte triste no futebol. O cara que sai cometendo o último erro é o vilão. Muito difícil ser apenas um erro. Mas quase todos os gols não foi um só culpado. Nem os que desperdiçamos. É o time inteiro. Quem analisa com calma e sensatez, é capaz de analisar os erros. Talvez tenha sido o último que correu o que fica na imagem. O que temos que fazer é levantar o ânimo o quanto antes. Pode ser vilão em um jogo, mas vai ter uma oportunidade de acertar no próximo. Aqui é mais fácil acertar. Esse pessoal que vem sendo cobrado é questão de tempo o futebol deles voltar.

– Podemos pensar nos outros, mas a realidade é que faltam 15 jogos. Só temos que pensar no Flamengo. Se ganharmos a maioria, vamos ter possibilidade. Temos que fazer nossa parte. Agora, é o Santos. Esse é o pensamento. O Simeone dizia: “Partido a partido”. Se o São Paulo ganhar os 15, mérito deles.

Análise do Santos

– Dificílimo. Santos tem muita história. O Marinho é o jogador mais difícil de marcar no Brasil. Elétrico, vai no 1×1. Cria perigo. É super complicado. Vai ser exigência máxima, um jogo que todos gostam de jogar. Santos está com alguns desfalques, mas sabemos da qualidade dos jogadores.

Pacto pelo Brasileiro?

– Ninguém firma pacto sem ter na mão… O que existe é um compromisso máximo dos jogadores. Não tenho nenhuma dúvida. Nos momentos ruins nos reunimos, todos falaram. Tentamos falar com os jogadores que não estão rendendo no seu nível. Pacto foge das nossas mãos. O que existe é compromisso de lutar pelo título até o último segundo. Os maiores ídolos, tirando o Zico, são os que mais se entregaram com raça. Pacto não existe.

Jogar sem a torcida

– Que saudade da Nação… Está sendo atípico. Desde que jogo futebol tinha torcida, nem que fossem 30 pessoas. A gente joga por isso. Quem joga pelada sabe. Esse sentimento a gente perdeu. No meu caso, tenho muita saudade de jogar com a pressão, tanto em casa quanto fora. Jogar contra também é diferente. Esperamos essa vacina logo. Desde pequeno sonhei com a torcida gritando meu nome. Quero ouvir de novo. (Globo Esporte)