Que essas eleições foram atípicas não se discute; porém, o não apoio do MDB à reeleição de Pinheiro beira o non sense. É até compreensível uma ou outra defecção por querelas de cunho pessoal, mas a unanimidade do partido contra ou “neutra” é, simplesmente, inconcebível. O genial escritor Miguel de Cervantes, autor de “Dom Quixote”, vaticinou: “Ainda que a traição agrade, o traidor é sempre odiado”.
A traição dos membros do MDB cuiabano pode inviabilizar a permanência do prefeito de Cuiabá na sigla partidária por algumas razões: primeiro, a perda de confiança; segundo, a pretensa candidatura de Pinheiro ao Paiaguás e terceiro, postura, no mínimo, dúbia do cacique-mor emedebista, Carlos Bezerra.
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A filosofia, em especial a Ética, preconiza que existem dois níveis de confiança: a fiabilidade – mais básica – (reliability) está relacionada às interações com desconhecidos, instituições e com o mundo, e a confiança (trust) – mais profunda – relaciona-se com as interações morais entre os indivíduos e envolve a promessa; assim, quando essa é quebrada, tem-se a traição. Emanuel perdeu tanto a fiabilidade no MDB quanto a confiança em seus correligionários mais próximos, amigos. Portanto, a consequência dessa dupla perda de confiabilidade, o levará, muito provavelmente, a buscar nossos laços de confiança não apenas institucional mas também afetiva, afinal, não se dorme com o “inimigo”.
O alcaide da capital mato-grossense tem mais de 30 anos de vida pública, inclusive com três mandatos de deputado estadual e como administrador da Cidade Verde, mostrou-se extremamente competente não só para a gestão dos espaços públicos como também na humanização e cuidado com a população cuiabana. Com poucos senões (em maioria, superados) e um vice à altura para ocupar o sétimo andar do Alencastro, o atual prefeito credencia-se fortemente para 2022 disputar o governo de Mato Grosso, ainda mais pela imensa empatia entre ele e o funcionalismo público do Estado.
Sabidamente o deputado federal e dono do MDB mato-grossense, Bezerra, tem outros planos para a legenda e eles não incluem Emanuel, mas Mauro Mendes; isso ficou claro tanto “silêncio” eleitoral quanto pelas declarações na imprensa. Ficar no “Manda Brasa” é quase um suicídio político para Pinheiro. Daí o “Ocaso”, quando algo termina ou chega ao seu limite.
Diante desse tabuleiro político complexo e dinâmico, o que fazer? EP está como Édipo diante da mitológica Esfinge de Tebas e seu enigma: “Que animal anda pela manhã sobre quatro patas, a tarde sobre duas e a noite sobre três?” Por ter que deixar o novo mandato pelo meio; por ser um político analógico (algo facilmente reversível); por não ter o controle da máquina partidária e nem laços fortes com o agronegócio, Emanuel pensa em responder ou não à “Esfinge de 2022”, cujo bordão ela repte: “Decifra-me ou te devoro”.
*SÉRGIO EDUARDO CINTRA é professor de Linguagens e de Redação em Cuiabá. Foi Secretário de Cultura de Cuaibá e Diretor Executivo da Funec.
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