Romain Grosjean ficou por exatos 28s7 dentro do carro da Haas, cercado pelo fogo, após o acidente que sofreu no GP do Barein no último domingo. O francês deu detalhes do que viveu nos segundos que sucederam o choque e revelou que, além de se recordar de Niki Lauda, aceitou momentaneamente que morreria no incidente; tendo decidido, porém, que lutaria pelos filhos.

– Pra mim pareceu mais de 1 minuto. Quando o carro parou, abri os olhos e soltei meu cinto de segurança. Meu primeiro pensamento foi “vou esperar até que alguém venha e me ajude”. Eu não estava estressado e obviamente não sabia na hora que havia fogo, mas olhei para a esquerda e vi fogo. Tentei foi subir pela direita, mas não funcionou. Voltei pela esquerda, não funcionou. Sentei-me novamente e pensei em Niki Lauda, ​​seu acidente, e pensei “não pode ser assim a minha última corrida”. De jeito nenhum – recordou o piloto.

Ainda na primeira volta da etapa, Grosjean atingiu a AlphaTauri de Daniil Kvyat na saída da curva 3 e foi direto para o guard rail, destruído com a energia do impacto. Instantaneamente, o carro da Haas começou a pegar fogo. Após ser resgatado, o francês questionou o que houve com seu volante – peça que precisa ser removida para que o piloto deixe o carro – e ouviu que a força da batida fez a peça quebrar.

Fórmula 1 - Info Acidente com Grosjean no Barein v3 — Foto: Infoesporte

Fórmula 1 – Info Acidente com Grosjean no Barein v3 — Foto: Infoesporte

Quando percebeu a dificuldade que enfrentava para escapar do fogo, Grosjean começou a lidar com o pensamento de que talvez não conseguisse sair de lá. No entanto, a ideia de enfrentar a morte não ficou por muito tempo em sua cabeça – e o piloto creditou sua força para lutar contra as chamas aos filhos:

– Tentei sair de novo, mas eu estava preso. Então eu voltei pro banco e chegou o momento mais difícil: quando meu corpo relaxa. Fiquei em paz comigo mesmo e senti que ia morrer. Comecei a me perguntar: “Vai queimar o meu sapato, o pé ou a mão? Vai ser doloroso? Como vai começar?” Mas pensei nos meus filhos e eu disse “não, eles não podem perder o pai hoje”. Decidi virar meu capacete para o lado esquerdo e depois tentar torcer meu ombro. Percebi que meu pé estava preso no carro, então eu puxei o máximo que pude e meu pé saiu da sapatilha. Fiz de novo e meus ombros doeram; e eu sabia que ia pular.

Romain Grosjean mostra mãos aos mecânicos da Haas — Foto: Divulgação

Romain Grosjean mostra mãos aos mecânicos da Haas — Foto: Divulgação

O francês foi retirado das chamas pelo médico Ian Roberts e o piloto do carro médico Alan van der Merwe. No entanto, coube ao piloto da Haas a tarefa de deixar a célula de segurança do carro, partido ao meio, para ser resgatado.

– Eu estava com as duas mãos no fogo. Minhas luvas são vermelhas normalmente, mas vi que a esquerda estava mudando de cor e começando a derreter até ficar totalmente preta, e eu senti dor, mas também sinto o alívio por estar fora do carro. Pulei até a barreira e então senti Ian [Roberts] me puxando pelo macacão, então eu soube que não estava mais sozinho. Retirei minhas luvas porque também vi que a minha pele estava criando bolhas e derretendo, e grudaria na luva. Entramos no carro médico e nos sentamos, e eles colocaram uma compressa fria em minhas mãos – recordou Grosjean.

Equipe médica conduz piloto até a ambulância após o acidente no Barein — Foto: REUTERS/Hamad I Mohammed

Equipe médica conduz piloto até a ambulância após o acidente no Barein — Foto: REUTERS/Hamad I Mohammed

Passado o susto, os pilotos e o público ainda reviam as imagens da batida de Grosjean, repetida pela transmissão da corrida após o incidente – fato que não agradou colegas do francês como Daniel Ricciardo e Sebastian Vettel. Foi por isso que, embora estivesse debilitado, o piloto da Haas decidiu que valeria a pena superar a dor para transmitir uma mensagem importante aos companheiros, bem como o público e sua própria família:

– Ian (Roberts) me explicou que a ambulância estava chegando e que “eles vão vir com a maca”. E eu disse “não, não, não”. Eu saí do carro e disse “vamos caminhando”, e ele respondeu, “OK, vamos ajudá-lo”. Acho que pelo ponto de vista clínico, não foi a decisão mais perfeita, mas eles entenderam que, para mim, era fundamental que houvesse imagens minhas caminhando. Mesmo tendo saído do incêndio, eu precisava enviar outra mensagem forte de que estava bem.
Romain Grosjean publicou foto no hospital poucas horas após o acidente — Foto: Reprodução Instagram/Romain Grosjean

Romain Grosjean publicou foto no hospital poucas horas após o acidente — Foto: Reprodução Instagram/Romain Grosjean

Depois de dar início ao tratamento das queimaduras que sofreu nas mãos e em um dos tornozelos, Grosjean passou três dias no hospital, no Barein, e recebeu alta médica nesta quarta-feira, agradecendo aos profissionais envolvidos em seu resgate.

O piloto se reencontrou com a esposa, Marion Grosjean, e os filhos, e retornou ao Circuito do Barein. Lá, esteve com o médico Ian Roberts e o piloto do carro médico Alan van der Merwe, que o tiraram das chamas. Fora do GP de Sakhir, e sem previsão de retorno para Abu Dhabi, encerramento do campeonato, Grosjean será substituído neste fim de semana pelo brasileiro Pietro Fittipaldi.

ARTE HORÁRIOS GP DE SAKHIR — Foto: Infoesporte

ARTE HORÁRIOS GP DE SAKHIR — Foto: Infoesporte

(Globo Esporte)