Abel Ferreira adotou um discurso forte e de confiança na primeira entrevista coletiva como treinador do Palmeiras. Apresentado no início da tarde desta quarta-feira, o português confirmou que estreia contra o Red Bull Bragantino, nesta quinta, pela Copa do Brasil, e traçou o grande objetivo para a passagem no Brasil: ganhar títulos.
— Não vim aqui para ter férias, vim aqui para trabalhar e ganhar com o clube. Vim para ajudar os jogadores a crescerem, é a minha missão. Portanto, minha estadia nos próximos meses será aqui dentro. Não nos falta nada. O Palmeiras oferece todas as condições para os profissionais fazerem o trabalho — afirmou o treinador.
— Sou um homem de convicções. Gosto de seguir meus instintos, me desafiar. Não foi pelo que os outros disseram ou mostraram, foi por convicção de, com o Palmeiras, acrescentar títulos na minha carreira. Só estando com os melhores isso é possível — declarou Abel Ferreira, que afirma ter estudado bastante o Palmeiras antes do acerto.
— Fiz meu trabalho de casa, como o clube fez ao apostar em mim. Verde e branco é algo que me persegue como jogador e treinador. Foi a minha vontade de crescer melhor e me juntar aos melhores — brincou, citando o passado ligado ao Sporting, clube no qual começou a carreira como treinador de base.
A apresentação de Abel Ferreira na Academia do Palmeiras — Foto: César Grecco / Ag Palmeiras
O técnico palmeirense repetiu por algumas vezes na entrevista que a “organização e a grandeza” do Palmeiras chamaram a atenção e foram decisivas para o acerto. Abel Ferreira é apenas o oitavo europeu a dirigir o clube em mais de 100 anos de história.
— Atravessei o Atlântico para trabalhar, ganhar, ajudar a estrutura e os jogadores a crescer, não para conhecer a cidade. (…) Estudei o clube, e as minhas ambições de agora e do futuro se encaixam muito. Há um plano muito bem definido por quem trabalha direto na base, mas não podemos esquecer os mais velhos, que podem ajudar os mais jovens a crescer. Assim é possível ter presente e futuro. Não quero saber disso de tempo. Vivo minha vida com muita intensidade, não penso a longo prazo — encerra.

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Recado a Maurício Galiotte
— Gostaria que minhas primeiras palavras fossem para dar as condolências ao presidente e sua família nesse momento de grande dor (pela morte do pai do presidente do Palmeiras). Desejo muita força nesse momento.
Primeiras impressões
— A organização e a grandeza do clube foram o que mais me impressionou. Uma coisa é o que dizem e outra é o que sente quando está no clube. Sua organização, grandeza, plano de presente e futuro. A forma global como veem o futebol. Agradou-me ter plano, organização, saber tudo o que querem. Quando é assim, é mais fácil estar perto de atingir vitórias e títulos.
Referências
— Minha referência no futebol é o conhecimento. São os livros, as pessoas, os portugueses, os brasileiros, todos aqueles que apanhei no passado, pois sou fruto das minhas experiências. Não posso nomear só um. Aprendi com todos os técnicos que tive, os bons, ruins, fracos, ótimos. Nas turbulências se adquire as melhores aprendizagens. Falei com portugueses e brasileiros para aprender sobre aqui.
Primeiro contato com elenco e relação com Andrey Lopes
— Quem não gosta de receber um time com vitórias, com vontade de ganhar, garra, energia e agressividade? A diretoria queria um vídeo para me apresentar, eu neguei, queria falar direto com os jogadores. É deles que dependo, é com eles que trabalho, é com eles que vamos ganhar. Peço desculpas se não fiz esse vídeo, mas primeiro os nossos jogadores. Andrey falou muito bem, o time teve comportamento espetacular. Ele conhece muito bem os jogadores e o clube, foi quem mais informações me passou, tem ideias europeias, a forma como gosta de organizar o time. É um aliado seguramente. Estivemos o dia todo ontem reunidos para trocar impressões e falar. Penso como os jogadores. A escola que eles andam eu já andei. Ninguém está acima da grandeza do clube, trabalhamos todo pelo mesmo. Todos aqui têm a missão de dar o melhor de si, para domingo darmos alegria aos nossos torcedores.
Sobre troca de técnicos constantes no Palmeiras
— Eu não vivo uma coisa que me guia. Algum dia vai acontecer isso [ser demitido]. Ainda não fui despedido, mas um dia vou ser. É natural. No futebol, mata ou morre. Vivemos em uma selva. As regras do jogo são claras: ou ganha ou ganha. Mas gostei muito. O presidente fez perguntas, mas também perguntei a ele. Estudei o clube e as minhas ambições de agora e do futuro se encaixam muito. O clube trabalha muito com a base, mas não podemos esquecer dos mais experientes, que ajudam os jovens a crescer. Há um plano muito bem definido por quem trabalha direto na base, mas não podemos esquecer os mais velhos, que podem ajudar os mais jovens a crescer. Assim é possível ter presente e futuro. Não quero saber disso de tempo. Vivo minha vida com muita intensidade, não penso a longo prazo. Vou defender o verde e branco até a morte. É o resultado que nos guia. É loucura ter dois meses com 18 jogos, mas ok, vamos encarar com seriedade, disciplina, comunicação. O que mais gostei de ouvir é que o presidente sabe o que quer para o presente e futuro para o clube, isso que mais me agradou. Tive vontade de representar este clube, vou dar o melhor de mim de coração e alma para representar este clube.
Projeto do Palmeiras
— No projeto tem que ganhar. Tem que ver o contexto que chega. É uma realidade diferente. A mente aberta que tenho que ter, para me adaptar rapidamente ao clube, a cidade… E a capacidade que todos têm de me acolher, trabalhando sem tempo. Não há tempo de treinar. Mas o projeto, o clube fez uma grande reforma na equipe, temos jogadores de forma constante vindo da base, temos o Renan e o Gabriel Silva treinando conosco, mas o time tem jogadores da base que já treinam conosco, como o Veron, tem o Wesley em seu primeiro ano, o Danilo, o Patrick, o Vinicius, o Gabriel Menino, que estão na primeira vez no Brasileiro. Vi um menino chamado Felipe Melo ter 10 quilômetros no jogo com intensidade. Isso agrada. Ver o Luiz Adriano recuperar bolas na nossa área. Por isso ganhamos o jogo, dos mais novos e mais velhos. O time está bem.
Padrão de jogo
— Não há como mudar, não tem tempo. Vamos ver a confiança dos jogadores, a forma como vamos jogar, mas o que está bem é para continuar. Disse a eles que mostraram no jogo uma fotografia que foi além da vitória. Mostraram qualidade, organização, espirito de equipe, competitividade, a forma como celebravam os gols, o Luan celebrava muito quando fazia um corte. Gosto que meus times joguem com a bola, mas não é só isso. E o Palmeiras foi muito inteligente ao aproveitar todos. Fez tudo como um time. Quando todos querem muito uma coisa, ela acontece.
Jogar bonito e vencer
— Temos que recuperar a nossa identidade. O Palmeiras é conhecido pela Academia, por uma forma e estilo de jogar, não pelo número de títulos que ganhou naquela época, foi pela identidade criada. Mas não me peçam que sem treinar vejam meu time jogar como os meus times anteriores. Não me peçam isso, pois não há tempo. Sei que temos que ganhar. Os jogadores são inteligentes, sabem o que devem fazer em campo, têm uma base dentro deles. Eles têm um mapa do futebol dentro deles. O que vamos fazer agora é ajudá-los, que cada um tenha a capacidade de ser melhor que si mesmo a cada dia. Se fizermos isso como no último jogo, teremos muitas alegrias.
Segredo da escola portuguesa
— A divisão do conhecimento. Posso dizer que tive vários a compartilhar comigo, como eu fiz, como fazemos, compartilhamos ideias, conceitos, formas de atacar e defender. Cada um gera seus próprios conhecimento e ideia de jogo. Quando comecei a treinar, criar a minha ideia de jogo, comecei em uma perspectiva global. Como valorizo jogadores, clube, ideia de jogo. Foi a partir daí que fiz meu conhecimento, nossa ideia de jogo. Mas tenho projeto e tempo nos clubes para cimentar e crescer, como outros que conseguem aguentar a pressão dos torcedores, pois conhecem as pessoas que estão no projeto. É isso, valorizar o clube, os jogadores, o futebol. Temos a responsabilidade de dar o melhor em campo para quem assiste, para nossa família Palmeiras gostar do que vê. Foi dentro disso que estamos cimentando a ideia de jogo.
Duelo contra Sá Pinto, técnico do Vasco
— Não quero falar sobre o jogo de domingo. Mas é verdade, quando olhamos para nossa linha de vida, há muitas pessoas que marcaram nela. Eu deixei de jogar futebol com 20 e poucos anos. Ele convidou-me para ser assistente dele, estive com ele, ele me deu a chance de começar no sub-19 do Sporting.
Base no Palmeiras
— Tenho um elemento na minha equipe técnica nos dois clubes onde passamos antes. NO PAOK, a gente tinha jovens de 20 anos, jogando com muita regularidade. Temos um elemento diretamente responsável por tudo que se passa na base, ver os jogadores, falar com a coordenação. Eu já fazia isso nas minhas equipes. Gosto que tenhamos dois jogadores por posição equilibrados e gosto de criar espaços para ter jovens conosco. Futebol é oportunidade. Jovens precisam ter essa oportunidade. Há um departamento de futebol organizado, com scouting organizado, é normal que os jovens queiram vir pelo fato de o Palmeiras usar muito. Mas eles só estão fazendo o que fazem, pois tem os jogadores experientes que os ajudam. Se o Gabriel Menino está na condição que está, é porque escalar o Rocha e o Mayke o ajuda. Assim é com os outros também. Gosto dessa mistura. Os mais novos querem crescer junto, com respeito, amizade, competitividade.
Copa Libertadores
— Todas as competições são importantes, o Palmeiras compete em todas para ganhar. Mas vai ter que ter comunicação com o núcleo de saúde e performance. Vamos ver com a logística como recuperar e as exigências também. Me reuni com o núcleo de saúde, foi urgente. Estamos em todas as competições e já ganhamos uma. Mas vamos ter que falar muito sobre logística, gerir tudo. Temos as seleções. Viña tem 17 jogos seguidos e vai para seleção, tem Gomez e Weverton para sair. Vim para ensinar e aprender. Não sei tudo.
Grama sintética na arena
— É muito difícil arrumar desculpa do gramado quando perdemos ou colocar como bom quando ganhamos. A desculpa não nos ajuda a evoluir. Acredito no que vi no último jogo. Se o time estiver junto, com agressividade, compromisso coletivo, com o desejo de vencer nos olhos, tanto faz se é gramado, pelado, sintético… O futebol é isso, os sócios querem que jogue para vencer seja onde for.
Ego
— Fica um conselho aqui para mim e meus jogadores Temos de ser muito equilibrados em todos os momentos. Vou perder, ganhar, vão dizer que sou o melhor e o pior. Mas o que não pode mudar nunca é acreditar no que fazemos. Tenho uma regra de 24 horas para chorar uma derrota e celebrar uma vitória. Ser despedido ou vendido são regras do jogo. Tenho tanto para me preocupar e decisões a tomar, que não posso gastar energia com o que não controlo. Todas as minhas decisões, só tem uma intenção: que o Palmeiras ganhe. E vão me criticar por tirar esse ou aquele, é assim em todo lugar. Mas todas as minhas decisões são no que é melhor para o clube. Não vou mudar isso. Me pergunto muitas vezes: o que me trouxe até aqui? Nas dificuldades, nas vitórias. Não gosto de ego, não gosto do eu. Gosto de nós. Sei muito bem o que quero, o clube também.
DNA do clube e como jogar
— A torcida tem de ter paciência com isso. É difícil para nós e para todos. É normal ter lesões, intensidade mais baixa nos jogos. Chega a ser desumano, mas vamos apelar a outras capacidades como sacrifício, estar cansado e ter que correr, ter que estar cansado e ter que ganhar. O clube já tem isso. Peguei o livro da história do clube, e é pesado. Temos de ter uma intenção das nossas decisões para tornar o time competitivo e jogar para ganhar. O termo propositivo não significa que vamos ter a bola o tempo todo. Temos de perceber os momentos do jogo. Se tiver de juntar tropas e defender, vamos fazer. Quando puder propor, faremos.
Relação com torcida
— Não sei explicar isso. Faço isso de forma natural, o que estou sentindo. Tivemos momentos bons, que me aplaudiram, outros que me xingaram, e o torcedor tem todo direito de xingar quando joga mal e aplaudir quando joga bem. Temos de saber lidar com isso. Mas temos que ter certeza absoluta de que vamos suar a camisa do primeiro ao último minuto. Vamos tentar somar isso ao DNA do clube, tem rica história, é o maior campeão brasileiro. Não sou eu que digo, são técnicos vencedores: é preciso tempo. Mas sei que é preciso ganhar. Ou ganha, ou ganha. Não há outra forma.
Pressão no Brasil
— Faz parte do jogo. Alguns clubes têm mais paciência, outros têm menos. Há quem aguente mais a pressão da torcida, outros menos. Eu sei que dependo dos resultados e dos meus jogadores, da forma de jogar, da metodologia. Vou gastar a energia nisso. Precisamos da imprensa, dos fãs, dos corneteiros. Isso é um mundo, sei como é o futebol, como funciona e o que tenho que fazer. O foco é no que eu controlo. O que não controlo eu deixo para os outros. O futebol me apaixona. Vocês têm a responsabilidade de promover o futebol. É o esporte que todo mundo vê, que pode unir. Até a minha mulher me xinga e me cobra quando eu chego em casa. Tudo que faço, todas as minhas decisões, são para o melhor do clube. O resto é lei do mercado, e não sou eu que vou mudar as regras.
Mudar tudo ou manter o “Cebolismo” no início?
— Tenho que ser humilde para saber que estou chegando a um clube que quer ganhar, que está a ter bons resultados. Eu não vou mudar em dois dias, sem tempo para treinar. Minha função é saber que tem coisas para fazer sem tempo. Minha função passa por tomar as melhores decisões. Não por ego, não pelo que é melhor para mim. Minha decisão será sempre com o que é melhor para o clube a cada momento.
Reforços
— O primeiro que temos que fazer é olhar para dentro do clube e saber se tem alguém aqui que pode ocupar essa exigência. Não precisamos buscar jovens, pois aqui temos. Se não acontecer, vamos atrás. Mas fiz meu diagnóstico. Não é preciso mexer muito, temos bons jogadores. Temos jovens. Já entreguei esse diagnóstico ao nosso diretor. E será sempre nessa linha: procurar dentro do clube. Se não tiver, procuramos fora. Não tem que mexer muito, estamos bem, temos uma base muito boa. Mas temos o Viña com 17 jogos seguidos. Ele é top. Vamos perder alguns para seleções. Vamos ter que procurar soluções. Estamos em todas as competições por méritos de quem trabalhou antes de mim. Todas nossas decisões serão para melhorar o Palmeiras e o nosso plantel.
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Abel Ferreira, técnico do Palmeiras — Foto: César Grecco / Ag Palmeiras
(Globo Esporte)