O presidente do Santos, Orlando Rollo, defendeu a contratação de Robinho, repatriado pelo Peixe no último fim de semana.
Rollo atendeu à reportagem do ge com exclusividade e afirmou que Robinho está sofrendo um “apedrejamento moral” desde que foi oficializado como reforço do Santos, com contrato de cinco meses. Em 2017, o atacante foi condenado em primeira instância a nove anos de prisão por violência sexual na Itália e recorre da decisão em liberdade.
E é justamente esse o argumento do presidente do Santos, que acredita que Robinho merece a oportunidade enquanto o processo não estiver encerrado.
– É direito de qualquer pessoa discordar da contratação. Concordar, discordar, cada um tem sua opinião. Só acho desumano o apedrejamento moral que estão fazendo com o Robinho sem ele ter sentença definitiva. Ou seja, transitado em julgado. É um processo que está em andamento na Itália, está muito longe de terminar, ainda tem outras esferas para decidirem. Está em segundo grau, ainda cabe recurso e mais um recurso. O que está acontecendo é um apedrejamento – disse Rollo.
– Politizaram a contratação do Robinho. O Robinho depois dessa acusação já jogou no Santos, no Atlético-MG, jogou fora do país e ninguém falou nada. Começaram a apedrejar ele agora – continuou o presidente do Santos.
Orlando Rollo, presidente do Santos, atendeu a reportagem do ge na Vila Belmiro — Foto: Eduardo Valim
Policial civil afastado de suas funções desde quando assumiu a presidência do Santos, Orlando Rollo diz, ainda, já ter lidado com casos de violência sexual e que isso foi levado em consideração pelo clube antes da contratação de Robinho.
Independentemente disso, Rollo revela que o Santos pediu acesso ao processo, que corre em segredo de Justiça na Itália.
– Já investiguei casos de estupro e prendi muitos estupradores. É um crime que eu abomino como policial e ser humano. E abominamos qualquer tipo de violência, ainda mais violência contra mulher. A gente abomina. Só que o Robinho não está condenado. Não tem sentença definitiva. Todo mundo está julgando o Robinho e ninguém nem leu o processo. Eu já pedi uma cópia do processo, e o tradutor ainda está traduzindo. Ninguém nem viu o processo. É desumano.
A volta de Robinho ao Santos gerou amplo debate e rendeu críticas ao clube nas redes sociais após o anúncio do acerto no último sábado. Rollo diz que optou por contratá-lo por não ter uma condenação definitiva.
– O que me espanta inclusive pessoas condenadas pela justiça apedrejando pela justiça, sendo que nem condenado ele foi. É evidente que o Santos levou em consideração esse problema. Só que tivemos ciência de que ele não está condenado.
– Quem sou eu para julgar? Quem tem de julgar é o juiz. O juiz da Itália – dispara Rollo.
Cria da base, Robinho defenderá o Santos pela quarta vez. O atacante já disputou 246 jogos e marcou 109 gols pelo Peixe. Ele foi uma das estrelas do Alvinegro nas conquistas do Campeonato Brasileiro em 2002 e 2004. O jogador ainda voltou por mais duas vezes (2010 e 2014), quando conquistou o Paulistão (2010 e 2015) e a Copa do Brasil (2010).
Robinho terá um salário simbólico de R$ 1.500, porém, com bônus de R$ 300 mil após dez jogos e mais R$ 300 mil depois de 15 jogos, valor a ser pago ao fim do vínculo. O Peixe terá a preferência para renovar com o atacante por mais um ano e sete meses.
Entenda o caso Robinho
Robinho foi condenado a nove anos de prisão por violência sexual na Itália. A decisão é de primeira instância. Ainda cabem recursos, e o jogador recorreu.
De acordo com a sentença, o crime ocorreu em 22 de janeiro de 2013, ao lado de outros cinco homens, e a vítima é de origem albanesa. A condenação saiu em 2017, quando o atacante já havia deixado o futebol italiano – ele defendia o Atlético-MG à época. Robinho nega envolvimento no caso e entrou com recurso.
Robinho, do Santos — Foto: Ivan Storti/Santos FC
Na última terça-feira, os advogados de Robinho divulgaram uma nota oficial em que explicam detalhes do caso. A defesa alega que o jogador deve ser considerado um “homem livre” enquanto todos os recursos não se esgotarem.
– De acordo com a Ordem Constitucional Italiana, Robinho deve ser considerado inocente, com base no artigo 27 da Carta Constitucional da República Italiana, segundo o qual o acusado não é considerado culpado até a sentença final (e isso somente se a condenação é confirmada pelo Supremo Tribunal de Cassação, que julga após o Tribunal de Recurso) – diz a nota.
Em entrevista à rádio CBN no último sábado, o jurista Wálter Maierovitch afirmou que o atacante, que ainda espera o julgamento de um recurso, não pode ser considerado culpado:
– Na realidade, existe um princípio civilizatório, adotado inclusive pela nossa Constituição, que é a presunção de inocência. Não podemos esquecer disso. O Robinho foi condenado em primeiro grau. Na Itália, é um colégio, um tribunal, não é só um juiz. Tem participação popular. Foi condenado, mas não é uma condenação definitiva. Ele apelou e foi reconhecido o direito de recorrer em liberdade. Isso está em sede de apelo. Portanto, acho que a gente não pode excluir e deixar de lado essa presunção de não culpabilidade. (Globo Esporte)