Apresentado pelo Corinthians na tarde desta terça-feira, ao lado do presidente Andrés Sanchez, o técnico Vagner Mancini classificou a chance no Timão como a maior de sua carreira. O treinador prometeu dar uma resposta rápida dentro de campo.
–É a grande chance da minha carreira, sim, assino embaixo pelo tamanho do Corinthians, pela história – disse o técnico, sem pestanejar.
Mancini citou que sua intenção é fazer o “Corinthians voltar a ser Corinthians”.
– Num momento inicial, o Corinthians vai voltar a ser o Corinthians, jogar com a marca Corinthians, não adianta querer mudar cultura ou maneira de jogar. Todo mundo tem o direito de tentar, a tentativa é sempre válida, mas num momento em que a situação mostra que é importante estar focado e buscar nas suas raízes a sua melhor força.
– O Corinthians tem de voltar a jogar como acompanhamos nas maiores conquistas, você vai buscar na sua memória o que tem de melhor, de uma era vitoriosa, onde o clube tinha em campo atletas que buscavam o máximo em todas as jogadas, todo mundo sabia a dificuldade de enfrentar o Corinthians não só dentro de casa, tinha uma marca Corinthians. Temos de resgatar para dar confiança e bons resultados. É o passo inicial. Depois ajustes serão feitos – prometeu.
O novo técnico terá pouco tempo até seu primeiro compromisso. Nesta terça-feira, o Corinthians já embarca para Curitiba, onde enfrenta o Athletico-PR na noite desta quarta-feira. Mancini foi questionado sobre o que já será possível apresentar e falou em mudança urgente de atitude.
– Esperar que seja um time com astral diferente. Assisti boa parte do jogo contra o Ceará e pelo o que eu vi no semblante dos atletas aqui no CT Joaquim Grava… Vou reencontrá-los agora no treino, e esse será um ponto atacado. Assim como já disse sobre gestão de pessoas, é importante mostrar um caminho. Ninguém é dono da verdade, mas é uma atitude urgente para render o que a gente pode.
– A performance tem de melhorar e não apenas dos atletas em campo, isso recai sobre toda a estrutura. Com dois treinos apenas, é difícil fazer mudança tática significativa, mas é possível mudar atitude emocional, o que pode ser importante fora de casa. Vamos mostrar no treino o que é possível e devolver a confiança no decorrer do tempo. Importante dar um choque para que amanhã a gente tenha uma evolução em tudo isso – explicou.
O treinador também falou sobre o fato do Corinthians figurar atualmente na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro. Mancini disse acreditar que a resposta virá rapidamente.
– Não tenha dúvida que a partir do momento que um gigante entra numa situação desconfortável, ele sente. Abala o emocional de todos os envolvidos, mas é uma grande oportunidade de dar volta por cima, mostrar que há reação. Não tenho dúvidas que vamos reagir o mais rápido possível, óbvio que ajustes serão feitos, mas é importante acreditar nas pessoas que estão aqui faz parte ao processo. Temos que passar confiança e convicção. E ganhar jogos é o mais importante.
– A cara do Corinthians são vitórias suadas, ganhas em cima de um comportamento que não só agrada quem está aqui do lado, mas o torcedor também. A cultura do clube é essa. Tudo o que eu puder fazer, será feito.Não quero somente um futebol vistoso, quero que o Corinthians ganhe, que conquiste, isso torna o clube maior. Vistoso não quer dizer plástico. É entrega, alma, botar em campo o que o corintiano quer ver.
Vagner Mancini Corinthians — Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians
Confira outros pontos da entrevista coletiva do técnico Vagner Mancini:
Estilo de jogo
“Você não pode querer que seu elenco jogue da sua maneira se ele não tem característica para isso, é dar murro em ponta de faca todos os dias. Ao mesmo tempo, não pode tornar para o atleta um sistema confortável demais. Você tem que gerar algum tipo de desconforto para que haja evolução. Não para aborrecer, embora isso faça parte, a gente vive com pressão. Muita gente acha que vem do lado externo, mas é uma farsa, a pressão vem de dentro de cada um de nós do futebol. É assim que você cresce. Quem anda no futebol é quem age desta forma”.
Time agressivo
“Meus times tem forma agressiva de jogar. Isso eu posso pedir a partir do momento que não interfere em característica. Não quer dizer ter atleta expulso. É diminuir marcação, não deixar o adversário jogar, subir linha de marcação. Com a bola é chegar o mais rápido possível no gol adversário. Essa agressividade vai existir no Corinthians. Ser agressivo é o ponto diferencial. Você não pode ter uma equipe que quer chegar ao gol sem agredir, seja com bola, sem, no contato físico. Essa agressividade talvez esteja faltando. Cheguei ontem, é muito cedo para qualquer análise. Quero acertar mais que errar, eles vão acontecer, fazem parte do aprendizado.”
Resgate de identidade
“Resgate se dá por várias maneiras. Acho muito importante o entorno do vestiário, do campo, saber o que os atletas estão passando. As atribuições do treinador vão muito além de escalar equipe e executar treinamento. Tem de trabalhar muito a gestão de pessoas, dá parâmetro para motivar os atletas, para tirar o melhor de cada jogador. Estou chegando no clube, fui muito bem recebido e estou muito contente com isso. Sinto um ambiente familiar, de cobrança, mas de responsabilidades. Elas vão chegar a todos os que têm que ser cobrados. É uma situação atípica no Corinthians, mas temos que resolver esse problema. Eu fui a pessoa escolhida para vir e resgatar o que o clube tem de melhor. Vou me dedicar muito a isso. O dia a dia com jogadores, viagens, concentração, são importantes para mudança de astral e emocional”.
“Temos que resolver os problemas. Olho no olho, respeitando as individualidades e cobrando o que eles podem dar”.
Vagner Mancini, do Corinthians, com os auxiliares Anderson Batatais e Cláudio de Andrade — Foto: Rodrigo Coca/Ag. Corinthians
Trabalho com Otero e Cazares no passado:
“Não só Cazares e Otero, mas Gabriel e Fagner também já foram meus atletas. Todo o elenco tem muito a ganhar quando você tira o melhor de cada um. O atleta diariamente está em aprendizado. Com jogadores de seleção no elenco, bom lembrar que temos time para sair desta situação, esses atleta são referências num elenco mesclado com jovens. Otero e Cazares foram muito bem comigo no Atlético-MG, quando saí os dois perderam espaço e passaram por um período de inatividade Temos de olhar com carinho para isso e resgatar o preparo de cada um, são peças fundamentais para a gente sair desta situação incômoda. E estender a todo o elenco, o momento é para se dedicar um pouquinho mais a alimentação, descanso, estudo do que é desenvolvido, para fazermos melhor as coisas”.
Mais sobre a cara do Corinthians?
“Sobre resgatar a identidade, esse Corinthians de 2015 além de ser forte tinha futebol vistoso, realmente, acho que para esse momento seria loucura querer resgatar a plasticidade numa equipe que precisa resgatar a confiança. Tudo tem uma etapa. Agora é o emocional para parar de perder e voltar a ganhar. Depois, você tira do jogador o melhor gesto técnico, aí ele começa a evoluir e leva o coletivo a isso. Queremos reorganizar a equipe para que os atletas se sintam confortáveis em campo. Ninguém pode estar satisfeito com o que apresentamos no momento. E quando a gente evoluir, buscar mais”.
Atraso de salários
“Já passei por situações assim e te falo que a experiência sempre foi muito boa. Você olhando nos olhos e falando a verdade sempre vai ter desfecho feliz, na vida pessoal ou dentro de uma empresa. Quando você fala a verdade, não tem retaliação”.
Prioridades
“Cada coisa a seu tempo. Agora é atacar o resgate da confiança e da convicção dos atletas”
Conhece e vai usar a base do Corinthians? Há prazo para mudanças?
“Acho difícil você estabelecer prazo no futebol, a gente pode ver uma equipe que na chegada do treinador muda radicalmente e passa a jogar bem, retoma confiança e vai melhorando. E já vi situações diferentes, Difícil quando você se refere a tempo. Tempo é diferente para quem espera a vitória, que é o torcedor. A partir do momento que eu tiver uma convivência maior, poderei responder com certeza maior de quanto tempo vamos precisa. Esse momento é mais de aspecto emocional do que qualquer outra coisa. Quando devolve o emocional filtrado…Do que qualquer outra mexida técnica ou tática. Sobre jovens, tenho algum conhecimento, mas não profundo. Tem muitos atletas já inseridos no profissional. Uso a estrutura para sabermos, temos Coelho e Mauro que vão passar as informações necessárias para a gente acertar mais que errar”.
Ainda sobre jovens
“Dei a oportunidade para vários atletas que tiveram destaque internacional. E vai ser assim no Corinthians também. Maturidade se adquire com a vida e não por idade. Sempre que eu tiver a possibilidade e enxergar num atleta jovem que ele está pronto, ele passa a ser um adulto como todos os outros do elenco. O Corinthians precisa valorizar o que está sendo formado. Tenho que pensar com carinho no que está sendo produzido no próprio Corinthians”.
O ano de 2020 é só para livrar o time do rebaixamento? Chegarão reforços?
“Ainda não deu tempo da gente falar sobre tudo, analisar o elenco, tenho menos de 24 h de clube, mas com calma vamos analisar, ver o que o mercado oferece. O mais importante é recuperar a autoestima do time, o nosso nível de jogo, temos jogadores vencedores no clube, importante olhar para eles e ver que temos o que tirar. Difícil é ter um elenco em que você torça todos os dias para que eles joguem bem. Aqui temos jogadores que podem ter reações diferentes em cada jogo, um dia com técnica, no outro se sacrificando pela equipe e com aspecto emocional. Vejo muitas possibilidade de a gente alcançar alguma coisa no campeonato, faltam 23 jogos, ainda tem muita coisa, o campeonato está equilibrado com duas ou três que desgarraram. Temos que focar em todas as partidas, pontos seguidos nos levam a outra posição”.
Esquema tático e a ausência da torcida
“Não tenha dúvida que enfrentar o Corinthians na Arena sem torcida é muito mais fácil, joga sem a pressão habitual, sem a atmosfera do jogo. Os árbitros, assistentes e adversários são contaminados. Não é fácil. Quando tivermos nosso torcedor de volta, certamente termos um ganho com isso. Sobre o esquema tático, é muito difícil falar sem ter visto em campo o que eu penso. Você sempre olha característica individual, do elenco e da coletiva. A característica coletiva, já falei da cultura e do que o torcedor espera ver. Aliado a isso, é montar um esquema eficiente e vencedor. A parte tática também terá ajustes. O Corinthians tem que ter uma forma de jogar, tem que ser uma equipe temida pelos adversários, ter um jogo forte, faz parte da sua história. Não vou contra isso. É buscar na raiz do clube”.
Reação com sequência de jogos complicada
“É a grande chance da minha carreira, sim, assino embaixo pelo tamanho do Corinthians, pela história. E como fazer para a equipe voltar a vencer?Todos os jogos do Brasileirão são difíceis. Não conseguiria ver uma sequência mais fácil ou mais difícil. Todos os adversários serão encarados da mesma forma, é assim que você começa a se preparar para ser vencedor. Sabe do seu potencial, do seu poderio e se prepara para ganhar. É uma tônica que será mostrada aos atletas. Temos jogadores vencedores que sabem o que é necessário. Todo mundo passa por situações de desequilíbrio na vida, temos que ter hombridade de reconhecer isso. E levar para campo o que tem de ser feito: reagrupar, realinhar para a gente voltar a vencer o mais rápido possível”.
Como encontra o clube?
“Sempre que você vai para um clube, a não ser que sejam situações diferentes, pega cenário de reconstrução. Aqui é devolver a confiança aos jogadores, mostrar que a organização tática tem que acontecer, isso gera confiança. Executando funções você tem a evoluir. Quando não tem organização como equipe em campo, começa a correr de forma aleatória e seu futebol caminha junto com isso. Importante que essa reconstrução aconteça em cada detalhe: vestiário, campo, dia a dia do treino, na gestão de pessoas. Você tem que ter ciência de tudo que acontece para agir. Corrigir um posicionamento de um atleta e no dia a dia entender o porquê que um atleta caiu de rendimento. Não fujo das atribuições. Vivo intensamente o clube. “
Sobre o áudio vazado em 2017 e o encontro com Andrés Sanchez
“Houve a conversa na época, liguei para o Andrés na época e para o Roberto de Andrade, expliquei, foi um momento de extrema felicidade por ter ganho do Corinthians na Arena, o líder que estava invicto. Diante disso, vazou um áudio brincando num grupo de amigos muito mais em cima da satisfação da vitória, que realmente chateou muita gente. Pedi desculpas e peço de novo, foi resolvido na época, liguei para o jornalista e resolvi nas 24 horas depois do episódio. Acerto e erro como todas as pessoas, temos que ter dignidade. Quando erra, reconhece o erro e a vida segue, não podemos ficar apegados, é muito pequeno diante do que acontece hoje. Torcedor sabe que aqui tem um cara que vai doar a vida para o clube. Na oportunidade, pedi desculpas e reconheci o que tinha feito”.
Andrés Sanchez Vagner Mancini Corinthians — Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians
Sobre a questão financeira e política do Corinthians
“Encontro um clube que está numa situação incômoda e que vai reagir no campeonato. Se eu não tivesse esta certeza, não estaria aqui. Acredito nas pessoas que estão aqui, que fazem parte do dia a dia, e do elenco. Essa convicção me faz vislumbrar um futuro melhor. As dificuldades vão seguir existindo, estamos num campeonato equilibrado, pós-pandemia, todo mundo teve dificuldade. Essa que o Corinthians e outras equipes têm, é uma coisa que atingiu todas as áreas da sociedade. Temos de ter lucidez para analisar. Acredito num elenco que pode não estar jogando bem, mas que pode jogar amanhã diante do Athletico-PR. Fica fácil de apontar pontos que podem interferir no trabalho. Olho de uma forma muito mais otimista. Minha vinda pode ajudar a solucionar os problemas que hoje o clube tem. Que a gente em campo consiga ajudar vencendo”.
Sobre a pressão e a carreira
“Há controvérsias, não foram cinco rebaixamentos, a partir do momento que você passa na equipe na temporada muita gente analisa de forma diferente. É como falar que Abel Braga ganhou Libertadores em 2019, fez parte do processo iniciado por ele e chegou aos títulos. Muitas matérias saem sobre isso, mas não quer dizer que isso se consumou. Atlético-GO vinha num grande trabalho, mas hoje estamos em outro lugar, é necessário entender a dimensão do que está acontecendo. No Corinthians tudo acontece muito rápido, as cosias acontecem para positivo e negativo de forma acelerada. Qualquer profissional se atualiza e melhora a partir que estuda e se recicla a todo instante”. (Globo Esporte)