Durante o evento ‘Diligência Queimadas no Pantanal’, que reuniu diversas autoridades, como a deputada federal Rosa Neide Sandes de Almeida (PT),  e instituições de ensino universitário federais, para discutir medidas de prevenção e combate às queimadas na região no último domingo (20), a jornalista Oziane  Rodrigues enfatizou que há cerca de 30 anos as políticas públicas que norteiam o tema, têm gerado danos irreparáveis ao homem pantaneiro.

Ela chamou a atenção para o sofrimento de todos os povos que compõem esse ecossistema e observou que eles têm sido esquecidos em todos os processos de construção e implementação de soluções. Enfatizando, sobretudo, que compreende a preocupação das autoridades em socorrer a floresta e os animais vitimados, mas que a mídia e as autoridades não devem se esquecer de ouvir os povos pantaneiros. Reforçando que ele não é o causador das queimadas, pelo contrário é também uma das maiores vítimas desta tragédia.

“Deputados e demais autoridades aqui presentes é nítida a preocupação de vocês em defender o Pantanal e impedir que estes incêndios aconteçam e que esta história se repita. Mas trago o desespero do pantaneiro que por muitas vezes tem sofrido calado. Este mesmo pantaneiro, que por 300 anos conservou este patrimônio da humanidade, deixou de ser ouvido neste processo”, alertou.

A jornalista protestou contra o endurecimento da legislação que impede que o pantaneiro, seja seu maior aliado contra os incêndios. Uma vez que o homem pantaneiro, com sua cultura peculiar de manejo do fogo frio – feito respeitando as regras centenárias de preservação, e o manejo de seu rebanho, ao criar o gado solto, realizava função reguladora do equilíbrio daquele ecosistema. Mas as leis nas últimas décadas impediram esta prática.
“Ao transitar e se alimentar por grandes extensões de área, o próprio gado reduz o volume da pastagem e consequentemente faz controle dos materiais de autocombustão impedindo o avanço do fogo, na época da seca. O endurecimento das leis está contribuindo para o desaparecimento do boi pantaneiro. E a ausência desse importante agente consequentemente está contribuindo para a realidade desses incêndios devastadores, que está prejudicando todos nós, do campo à cidade”, pontuou.

Além disso, ela destacou outras práticas dos criadores de gado pantaneiro que colaboravam com as medidas preventivas, que as leis engessaram. “O manejo do fogo frio é impedido por uma legislação dura”, disse.

O fogo frio é a prática de atear fogo de forma controlada e em pequenas proporções de áreas para a queima do acúmulo de matéria orgânica (capim, galhos e folhas secas). Estas matérias em grande quantidade funcionam como “combustível ” para as queimadas. A Legislação vigente determina que o rebando de gado pantaneiro fosse colocado em áreas cercadas, para mantê-los longes de reservas ambientais.

“Por décadas eles estão sendo impedidos de realizar práticas que auxiliavam contra os incêndio e, com isso, de serem aliados nesse processo. Então trago aqui um desabafo do homem pantaneiro, deste homem que não aguenta mais, mas que jamais irá desistir do Pantanal”, disse.

Oziane, que já atuou no setor da base florestal de florestas nativas do estado de Mato Grosso, frisou que há pelo menos sete anos, o Pantanal e a região de Chapada dos Guimarães, já sofriam com as queimadas. E de lá pra cá todos os anos os incêndios só aumentam. Por esta razão, parabenizou a frente parlamentar por pensar em políticas públicas que visam soluções definitivas para o problema. “Fiquei imensamente feliz e me senti representada ao ver pessoas e instituições sérias realmente comprometidas e preocupadas com essa tragédia no Pantanal. E é por isso, que trago o apelo dos povos pantaneiros.
Eles estão sendo impedidos de fazer o que amam. Sei que existem várias frentes de defesa, como os ambientalistas, mas como qualquer política pública é necessários ouvir as bases e construir da base, ouvir quem vive lá. Então quero pedir encarecidamente que não deixem de pensar no homem pantaneiro, não só como parte do processo, mas especialmente como a maior parte sofredora, porque mais do que perder bens materiais, ele está perdendo sua identidade”, finalizou.