Prevalece entre economistas, analistas do mercado e grandes bancos que o ano de 2020, sob o ponto de vista da atividade econômica, está praticamente perdido. Atropelado pela pandemia e a consequente paralisação dasprincipais atividades produtivas, o país não terá mais tempo para se recuperar. O PIB brasileiro deve sofrer queda próxima de 7%.

Os estudos voltam-se para projeções de como será a retomada das economias dos estados na pós-pandemia.Nesta semana, a empresa de consultoria econômica Tendências Consultoria Integrada publicou relatório sobre as perspectivas de crescimento dos estados para o biênio 2020-2021.

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Os estudos apontam que Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Pará e Rio de Janeiro são os cinco estados que mais rapidamente vão se recuperar da tragédia sanitária que afundou a economia mundial, nacional e regional. Os demais estados e Distrito Federal devem conviver com queda de suas economias,voltando a crescer apenas em 2022.

Em comum, os cinco estados apresentam idiossincrasias econômicas que se mostram pouco sensíveis aos nocivos efeitos da paralisação,produzem e exportam commodities agrícolas, vegetais e metálicas.

Os estudos apontam que Mato Grosso do Sul é o estado que sairá mais forte da pandemia, devendo crescer 2,7%. A alavanca dasua retomada é a indústria de celulose que, apesar de relativamente incipiente, já se tornou o carro chefe da economia daquele estado. O setor agropecuário, mesmo com bom desempenho, naquele estado, tem papel coadjuvante com a expansão da indústria de celulose.

As maiores produtoras de celulose construíram plantas industriais na região de Três Lagoas, aproveitando-se das excelentes condições edafoclimáticas para o cultivo de eucaliptos e um programa de incentivos fiscais voltados à industrialização.

A proximidade com o mercado consumidor de São Paulo, boa infraestrutura logística para exportação pelo porto de Santos, contribuíram consideravelmente para a região se tornar um grande “cluster”da área de celulose. O aumento do consumo de papel pelo mercado asiático e o real desvalorizado perante o dólar foram fatores preponderantes para sustentar a produção no período da pandemia.

O estado do Pará beneficia-se do aumento da produção de alumínio e a expansão da produção de minério de ferro pela mineradora Vale, nas minas de Carajás, devendo crescer 1,5%.Outro estado que sairá da crise em 2021 é Goiás, com estimativa de crescimento de 0,5%. Os setores que impulsionarão o aquecimento da economia são a produção agropecuário e a indústria de medicamentos instalada na região de Anápolis.

A economia do Rio de Janeiro deverá crescer apenas 0,5%, ancorada pela expansão da indústria de petróleo e gás natural, impulsionadas pela entrada em operação de novas plataformas de exploração na Bacia de Campos. Ainda que baixo, o crescimento do Rio de Janeiro será muito comemorado, pois o estado vive uma prolongada recessão que vem desde 2014.

O levantamento estima crescimento de 1,4% para Mato Grosso, cuja economia tem como locomotiva o setor agropecuário.

A boa performance do agro, que colhe a maior safras de sua história em 2020,atuou como uma espécie de blindagem à crise econômica puxado pelo pantagruélico consumo chinês, preços internacionais estáveis e o câmbio brasileiro desvalorizado.Somadas, essas variáveis contribuíram para a elevação dos lucros de toda a longa cadeia produtiva do setor.

As contas públicas do estado devem encerrar 2020 em equilíbrio,após sucessivos déficits fiscais de 2015 até 2019. O tesouro estadual recebeu volume considerável de apoio financeiro da administração federal e as alterações tributárias implantadas em janeiro fizeram aumentar em 19% as receitas tributárias no primeiro semestre.

Além disso, por causa da pandemia, foram suspensos todos os pagamentos das dívidas do estado com bancos nacionais, internacionais e com o tesouro nacional, liberando recursos para investimentos em obras sociais e de infraestrutura econômica.

Ademais, por determinação de lei nacional, o estado ficou proibido de aumentar gastos salariais, gerando considerável economia aos cofres estaduais.

Por mais paradoxal que possa parecer, em ano de crise sanitária e econômica, Mato Grosso vai terminar 2020 com as contas equilibradas e a economia se preparando para voltar a crescer quase no antigo ritmo asiático, justificando a alcunha de “Tigre Pantaneiro”.

*VIVALDO LOPES DIAS  é professor e economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA e Gestão Financeira Empresarial pela FIA/USP.  

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