– Se quiser jogar de memória, precisa de tempo.
Foi o que disse o técnico do Flamengo na curta coletiva de imprensa após o empate (1 a 1) com o Botafogo pela quinta rodada do Brasileiro. Domenèc Torrent comemorou que vai ter uma semana “limpa” para trabalhar conceitos no seu novo Flamengo. Ele quer tempo para mudanças. A análise é do jornalista especializado Raphael Zarko.
Tempo e mudanças. O primeiro ele mal vai ter no calendário brasileiro especialmente insano de 2020/2021 em cenário de pandemia. O segundo é o caso de entender a razão do treinador para ir atrás de mudanças, de seu estilo, como deixa a cada dia mais nítido que vai fazer o catalão.
Com 15 finalizações contra o Botafogo – e total de 67 nos cinco primeiros jogos (destes, 19 no gol, o que significa 30% das tentativas), Dome afirmou que o time precisa aprimorar finalizações
Algumas perguntas se impõem: as mudanças eram tão necessárias? Por que ele quer modificar sistema, estilo de jogo, funções, jogadores? É tudo ao mesmo tempo agora? E voltamos ao início. Ele vai ter tempo para isso?
Compreensão, por enquanto, ele teve mais de colegas de profissão, como Paulo Autuori – veja o vídeo abaixo – e Renato Gaúcho, do que da torcida e da crítica. Publicamente, existe o respaldo do clube.
Fato é que Domenèc vai atrás das suas soluções. Tateia a melhor formação, tateia as opções táticas e até, numa função quase inédita na sua vida (depois do período nos EUA), a relação direta com jogadores. Ele já avisou que não são os nomes que vão se escalar. Vai jogar quem estiver melhor – e melhor não necessariamente é o mais técnico neste momento, mas o que está melhor preparado fisicamente e também, quem sabe, psicologicamente.
Thiago Maia bem
A opção por Pedro Rocha se mostrou interessante. Pela esquerda ele criou as melhores chances do Flamengo, com boas jogadas individuais. Do outro lado, Dome encaixou Gabigol, com Bruno Henrique ao centro. Privilegiou juntar Diego e Éverton Ribeiro saindo do meio para abastecê-los, o que pouco aconteceu. Faltou força, objetividade e visão de jogo para a dupla. Arrascaeta, elogiado por Dome na coletiva, ficou no banco.
Na segunda etapa, mudou. Gabigol foi para o centro da área e Bruno para a esquerda – deixou Pedro Rocha do outro lado para auxiliar Matheusinho contra o infernal Luis Henrique, do Botafogo. Foi com essa formação que Bruno fez tabela com Thiago Maia – entrou bem no segundo tempo -, invadiu a área e perdeu a bola até Filipe Luís cruzar para o gol de Gabigol. A jogada foi anulada pelo toque de mão de Bruno.
O precioso tempo chega ao longo desta semana para Dome. Vai receber reforço de nível para a saída de Rafinha – o chileno Isla, que vai estar à disposição -, vai treinar ao longo da semana e terá períodos de recuperação e de treinamento para readaptar o modelo de jogo do Flamengo. Dome deixa recados no ar de esgotamento do time quase imbatível de 2019.
Disse isso ao lembrar que manter no topo é muito difícil e reforçou, nas entrelinhas, com ações – ao modificar posições e esquemas – e palavras (“Se quiser jogar de memória precisa de tempo. Jogar com estilo muito claro é mudar coisas”). Dome vai atrás de desempenho e resultado. Por enquanto seu time não conseguiu nem um nem outro. (Por Raphael Zarko/Globo Esporte)