A dois anos das eleições de 2022 o tabuleiro político se movimenta na definição dos nomes que vão disputar a presidência da República com o presidente Jair Bolsonaro. Da direita, passando pela centro-direita, centro, centro-esquerda e esquerda, todos os partidos e possíveis alianças sabem que para enfrentar o atual mandatário do país é necessário suplantar o eleitorado de suas bases sociais.
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A grosso modo, as aferições dos institutos de pesquisa historicamente mostram três campos naquele mosaico político-ideológico traçado no primeiro parágrafo. O espectro direita/centro-direita amealha em torno de um terço do eleitorado. A mesma fração o centro e o centro-esquerda/esquerda. Note-se que temos uma interseção e que, porquanto, esses campos oscilam dependendo do momento político-histórico.
Tudo isto para analisar que, no atual momento histórico, em que a direita está se consolidando com a extrema-direita em torno de Jair Bolsonaro, centro e esquerda batem cabeça para definir seus nomes com musculatura suficiente para fazer o enfrentamento com chances de vitória. As duas últimas pesquisas demonstram que o presidente se consolida na extrema-direita e avança com a direita para ultrapassa o um terço do eleitorado.
Como o PT, aos olhos de parte do eleitorado, é visto com o outro extremo – até porque o “bolsonarismo” estimula esta polarização – a composição com o centro lhe é uma dificuldade. Ademais, setores do grande empresariado e da grande mídia o refuta e buscam um nome ao centro para apoiar em 2022.
Sabemos todos que o Partido dos Trabalhadores terá seu candidato, que, ao que tudo indica deverá ser Fernando Haddad ou o próprio ex-presidente Lula, se conseguir reaver seus direitos políticos. Flávio Dino, do PC do B, e Guilheme Boulos, do PSOL, estão neste expectro. No meio até agora o candidato que se configura é Ciro Gomes, do PDT, um partido que transita na centro-esquerda e na centro-direita. Mas o ex-ministro não tem empolgado a galera e não desperta muita confiança dos setores que querem fugir dos extremos.
Quem sobra? Vários setores do grande empresariado e da grande mídia que não estão fechados com Bolsonaro têm muito poucas opções até agora. Luciano Huck? João Dória? Amoedo? Luiz Mandetta? Sérgio Moro? Marina Silva? Quem? Quem de fato tem cacife suficiente para tirar nas ruas o poder de Bolsonaro que vem se consolidando de forma avassaladora, dentro um suporte importante como as Forças Armadas e cabos eleitorais que o apoiam e idolatram irremediavelmente?
É neste quadro ainda não totalmente desenhado que aparece, a meu ver, o nome do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. Mendes sempre foi o mais político de todos os 11 membros da Suprema Corte. Indicado e nomeado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, defendeu dentro e, especialmente, fora do Judiciário posições escancaradas com o viés político-ideológico dos tucanos.
Confrontou inúmeras vezes os governos petistas, inclusive pessoalmente o ex-presidente Lula, com quem mantinha estreitas relações até protagonizarem episódios que os afastaram, mas que, ao que tudo indica, superados. Nos julgamentos do Mensalão e quando provocado em ações da Lava Jato, por vezes foi implacável com os petistas.
Contudo, nunca deixou de ter o respeito de pessoas de todos os espectros políticos por conta de algumas de suas características mais admiráveis. A primeira e mais importante delas, a meu ver, por ser um juiz garantista, navegando em vários momentos contra a maré punitivista. Assim, desde sempre se colocou contra os excessos da Operação Lava Jato.
A outra característica e a sua sinceridade enquanto magistrado, cidadão e, consequentemente, homem público e agente político. A terceira característica é a coragem, o que o faz botar o dedo em algumas feridas da vida nacional, com o alerta que fez em relação à postura das Forças Armadas diante do avanço das mortes pelo coronavírus.
Lembremos que por sua postura tem angariado afetos e desafetos. Em relação à polêmica com os generais, apesar de ter sido inclusive ameaçado de processo com base na Lei de Segurança Nacional, o tempo se encarregou de verificar a justeza de suas críticas e acalmar os generais. Sobre afeição e desafeição, vamos encontrar Gilmar Mendes debatendo com ninguém mais e ninguém menos que membros do estigmatizado Movimentos dos Trabalhadores Sem-Terra, o MST.
Tal movimento faz torcer narizes, olhos e bocas de integrantes de partidos da alça da direita e centro-direita, que invariavelmente abraçam teses de Gilmar Mendes e dos tucanos, com os quais sempre teve mais afinidade.
Contudo, a ida de Gilmar Mendes numa live do MST demonstra o respeito que ele tem no seio de todos os espectros políticos, muito embora se considerem adversários ideológicos. Mas, a meu ver, é justamente isto que o Brasil está precisando neste momento: de agentes políticos que possam transitar nos mais diversos campos da política nacional e dialogar com quem pensa diferente. Por esta razão que penso ser Gilmar Mendes o nome que o centro, a centro-esquerda e a centro-direita estão precisando para 2022.
Eu poderia aqui tecer um enorme cabedal de razões para a minha tese. O preparo é uma delas. Gilmar Mendes é doutor em direito constitucional. Conhece como ninguém a Constituição federal e todo ritual institucional de nosso país. É hoje um dos intelectuais mais preparados e transitou transita no meio político com desenvoltura e autoridade suficientes para opinar para presidentes, ministros, governadores, prefeitos e colegas de corte e amigos e parceiros de outras instituições da República, inclusive as Forças Armadas.
Por estas e outras razões que poderiam me fazer alongar este texto é que defendo o nome de Gilmar Mendes para ser apreciado. Sabemos que ele não tem – e na sua condição atual não poderia mesmo ter – filiação partidária.
Sabemos, no entanto, de sua proximidade com políticos e personalidades em todos os espectros políticos e que nesta condição ele deveria ser alçado ao debate eleitoral. Resta, no entanto, saber se Gilmar Mendes seria mais importante continuar no Supremo e, assim, sendo o necessário contrapeso na balança que tende a pender para desestrutura nosso estado democrático de direito.
Ele fará 65 anos em dezembro próximo, tendo, portanto, mais dez anos no STF até a aposentadoria compulsória. Assim, temos aí um dilema, a meu ver: Gilmar Mendes é melhor para o Brasil continuando ministro do Supremo ou sendo cada vez mais presente no debate político nacional, reunindo apoios para disputar a presidência da República em nome do avanço de nossa democracia?
*JOÃO PEDRO MARQUES é advogado, jornalista e publisher.
CONTATO: www.facebook.com/joaopedro.marques.927