“Mas o que eles não sabem/ não sabem ainda não/ é que na minha terra/ um palmo acima do chão/ sopra uma brisa ligeira/  que vai virar viração” (Kleiton e Kledir)

Lá no longíncuo fevereiro de 339 a.C., Sócrates era condenado à morte, sob a acusação de “corromper” a juventude ateniense.  Os seus algozes o obrigaram a tomar o veneno cicuta, ele teve a oportunidade de fugir, mas jamais conseguiria trair seus próprios ideais e crenças.

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Analogamente, a vereadora Maria Eugênia, a Maria Prefeita, foi “aconselhada” a se calar sobre  sua pré-candidatura à prefeitura de Diamantino.

Maria humilde, assim como Sócrates, com o seu “Só sei que nada sei”; Maria, assim como o filósofo ateniense, nas palavras de Xenofonte: “Tinha sempre presente no espírito os caminhos que conduzem à virtude e não se cansava de lembrá-los a quantos o frequentavam”; Maria que, assim como Sócrates, “Viram-no alguma vez fazer ou dizer algo contrário à moral, ou à religião?” (Xenofante). Sócrates foi julgado  por 501 juízes (e condenado: 280 a 221); Maria, por apenas uma promotora, ao arrepio da Lei.

Sócrates precisava ser um bode expiatório; Maria, mulher sábia (aprendeu com o auxílio de muitos silêncios necessários), precisa ser impedida de devolver aos diamantinenses o direito de sonhar que outra Diamantino é possível.

Diamantino – um misto de passado e presente; de ontem e de hoje: uma mistura de ouro, diamante e milho e soja, por muito pouco não virou a capital da província –  faltou um rio caudaloso para que D. Pedro I a erigisse como a capital mato-grossense.

A família Vasconcellos está na cidade desde 1942 e a Maria – funcionária concursada do INSS, por 35 anos, mulher, mãe, esposa, vereadora carrega em si sonhos e angústias de sua gente.

E tem em João Cabral de Melo Neto sua maior inspiração, daí o motivo da paráfrase: “Uma Maria sozinha não tece uma manhã:/ Diamantino precisará sempre de outras Marias. /De uma que apanhe esse grito que ela/ e o lance a outra; de uma outra Maria/ que apanhe o grito de uma Maria antes/ e o lance a outra;/ e de outras Marias/ que com muitos outros Mários se cruzem/ os fios de sol de seus/ gritos de Mários e de Marias,/ para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os diamantinenses.//E se encorpando em tela, entre todos os diamantinenses,/ se erguendo tenda, onde entrem todos os diamantinenses,/ se entretendendo para todos os diamantinenses,/ no toldo (a manhã) que plana livre de armação./ A manhã, toldo de um tecido tão aéreo/ que, tecido, se eleva por si: luz balão”. (A Educação pela pedra).

Dra Maria Coeli, será que, em nenhum momento, vossa excelência não percebe os desmandos da atual gestão? Será que a douta operadora do Direito não se deu conta da campanha sórdida e antidemocrática promovida pelo atual gestor? Será que vossa excelência não percebe as intimidações, as indicações políticas para a direção escolas? Será a lídima representante do interesses jurídicos e sociais faz vistas grossas aos desmandos do Alcaide?

Gostaria de pensar que Vossa Excelência equivocou-se ao silenciar a Democracia e a Liberdade de Expressão de uma parlamentar democraticamente eleita. Doutora, que maneira de entrar para a história de Diamantino, como a que cerceou aquela que fala pelo povo. Nem na Ditadura Militar presenciei tamanho absurdo.

Já presenciei muitas estultices em meus 59 anos de existência, poucos como o seu e é por isso, oh! diamantinenses, que gostaria que ouvissem  Maria Maria, de Milton Nascimento: “É o som, é a cor, é o suor/ É a dose mais forte e lenta/ De uma gente que ri/ Quando deve chorar/ E não vive, apenas aguenta//Mas é preciso ter força/ É preciso ter raça/ É preciso ter gana sempre/ Quem traz no corpo a marca /Maria, Maria/ Mistura a dor e a alegria”.

*SÉRGIO CINTRA é professor de Linguagens e de Redação em Cuiabá. Diretor Executivo da Funec. 

CONTATO:       sergiocintraprof@gmail.com

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“Mas é preciso ter força/ É preciso ter raça/ É preciso ter gana sempre/ Quem traz no corpo a marca /Maria, Maria/ Mistura a dor e a alegria” (Milton Nascimento)