Estes dados nos autorizam a prever que a demanda por alimentos irá dobrar nesse período.
Some-se a isso, o fim das terras cultiváveis dos países de clima temperado do hemisfério norte, que só tem condições de produzir uma safra anual.
Até algumas décadas atrás, ninguém previa que o bioma cerrado seria em poucas décadas o celeiro do Brasil. Também não se imaginava que o nosso capital humano “armazenado” na região sul do Brasil, junto com a criação de uma empresa de pesquisa agropecuária (EMBRAPA), formaria uma dobradinha que culminaria numa verdadeira revolução agrícola brasileira.
Porém, produzir só quantidade não é suficiente. Nossos clientes estão exigindo mais. É preciso produzir com qualidade, segurança alimentar, sustentabilidade ambiental e principalmente ofertar alimentos com preços mais baratos que nossos concorrentes.
Para isso levamos vantagens enormes, pois temos condições de produzir até três safras anuais, na mesma terra, utilizando a mesma mão de obra e o mesmo maquinário.
Quanto à sustentabilidade é difícil brigar com um país que planta quase tudo no sistema de “plantio direto” e que tem bem mais da metade de sua vegetação original preservada.
Nem por isso temos que nos “gargantear” que somos os maiorais em preservação. Temos que administrar a percepção que o mundo tem de nós.
Um fato que nos constrange são os desmatamentos e queimadas na Amazônia. Não adianta brigar com os países que nos acusam. Temos que resolver o problema.
Recentemente entidades ligadas ao agro e outros setores da sociedade já estão se posicionando no sentido da preservação desse bioma. Seria o “cala boca” para muitos países que nos impõem barreiras comerciais injustas. Cuidar do ambiente será o ativo e uma grande arma comercial do Brasil.
Na verdade, a relevância daquilo que é desmatado, num comparativo com o tamanho do bioma amazônico, é quase zero. Mesmo assim, a percepção mundial é que estamos devastando a floresta.
Está faltando um planejamento estratégico de comunicação.
Voltando ao mercado, para atender as novas demandas, teremos que dobrar a nossa produção nas próximas duas décadas. Esse aumento de produção virá da cessão de áreas de pastagens em função da modernização da pecuária e dos aumentos de produtividade advindos de novas tecnologias, já disponíveis.
Alguns agricultores vanguardistas conseguem produzir mais de 100 sacas de soja por hectare, 180 de milho safrinha e pasmem, 120 de trigo, no cerrado e de ótima qualidade. Estas serão as novas médias nacionais daqui a alguns anos.
Tudo isso, sem ofender nenhum hectare da floresta nativa e sem contar ainda com os avanços da biotecnologia.
Temos todas as condições de comandar a tecnologia da produção tropical de alimentos.
Dobrar a produção possibilita no mínimo triplicar a exportação, pois o mercado interno já está abastecido.
Já imaginaram o impacto na economia do país se dobrarmos ou triplicarmos as exportações do agro? Grãos, carnes, fibras, frutas, celulose e biocombustíveis? Galgaríamos muitos degraus em direção à riqueza.
Portanto, vamos cuidar e botar lenha nessa grande locomotiva que está “tocando” o Brasil e adicionar cada vez mais vagões ao comboio.
*ARNO SCHNEIDER é engenheiro agrônomo e pecuarista em Mato Grosso.
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