Gestões inteligentes e marcadas por boas relações de custo-benefício são vistas com destaque. Os olhos para tais administrações brilham principalmente no Brasil, país onde muitos clubes da elite convivem com dívidas exponenciais há décadas e lutam para sobreviver.
A questão financeira dos clubes geram dúvidas sobre o futuro: como sobreviver? Como manter o fluxo de caixa ativo? Uma das “soluções” estudadas por muitas equipes é assumir a associação de clube-empresa, seja pela compra da instituição ou com a chegada de um CEO. Em entrevista ao LANCE!, o economista César Grafietti afirmou que tal modelo não é moldado apenas por aspectos positivos.
– Inicialmente, eu achava que transformar o clube em empresa era a solução do futebol brasileiro. Mas, estudando mais, fui encontrando o equilíbrio. A gente tem o problema de olhar sempre os benefícios e nunca os riscos. Transformar as associações em empresa tem um monte benefícios, mas também um monte de riscos. Um exemplo é o que está acontecendo no Valencia, que a filha do dono falou: “O torcedor pode reclamar. O clube é nosso, a gente vai fazer o que bem entender e paciência”. Esse é o risco do clube-empresa. O modelo societário é menos relevante do que o conceito dentro do clube. Se tiver gestão profissional com ideias corporativos não importa se é associativo ou empresa, importa como você gere. A prova disto são clubes como Barcelona, Real Madrid e, aqui no Brasil, Flamengo, Grêmio, Bahia, Ceará, Fortaleza, associações que desempenham bem melhor que as outras – analisou.
César Grafietti alerta para os riscos que a mudança para o modelo de clube-empresa pode trazer e que é preciso ter uma situação financeira estável para realizar tal transição. O economista, contudo, lembra que o clube de General Severiano dificilmente se manterá competitivo sem a S/A.
– Conheço pouco do projeto do Botafogo. Tenho dúvida se o fluxo de caixa para sustentar o social e os esportes olímpicos será suficiente. Hoje boa parte dos clubes têm social com os déficits grandes. Hoje o futebol sustenta esporte olímpicos do Flamengo, do São Paulo, do Botafogo. A hora que você corta o cordão umbilical, muitos esportes olímpicos deixarão de existir. Quando separa, mas mantém o vínculo, manterá os problemas do fluxo de caixa de um lado para o outro. É um risco. Não sei até que ponto vai contribuir para o processo. São decisões que precisam ser tomadas. Talvez seja a única alternativa do futebol do Botafogo continuar existindo nos próximos anos – afirmou.
Grafietti afirma que a situação atual de alguns clubes pode ser explicada pela relação histórica. Pessoas que estão nos bastidores há muito tempo e mínima reciclagem de cargos. Na opinião do economista, independentemente do modelo associativo adotado, nenhuma alternativa terá sucesso sem uma gestão competente.
– A gente fala que os clubes não têm dono, mas têm sim. Sócios, beneméritos, estatutários. Ninguém quer abrir mão disso e não dá espaço para oxigenação. Os clubes que melhor se desenvolvem são os que reciclam seus conselhos, trazem ideias novas e capacidade para colocar com cabeça diferente. Estes beneméritos que estão lá há anos acham que entendem de futebol porque viram o Roberto Dinamite jogar ou o Túlio treinar. Acham que entendem porque vivem o futebol há 50 anos, não é este o objetivo. Eles veem os rivais ganharem corpos de distância e acham que o modelo deles é o certo para gerir o futebol. O problema atual é a estrutura arcaica e travada que não dá espaço para organização nos clubes – finalizou.