Neste primeiro artigo de 2020 vou tentar trazer uma leitura crítica à luz de uma realidade inevitável. Neste fim de ano minha mulher Carmem e eu decidimos dar uma volta de carro de Cuiabá a Minas Gerais, Brasília e de volta a Cuiabá. Algo como 3 mil quilômetros.

Leia Também:
-Quem elege quem?

-1 milhão de anos

-Perfil do prefeito de 2020

-Aeroporto Geodésico

-Mundo novo, novo mundo

-Tempo e não-tempo

-Mão de obra já era!

-O futuro da Amazônia

-O CPA de Cuiabá e Brasília

-VLT: não há o que discutir

-O saldo das queimadas

-Centro-Oeste e Amazônia

-Dante, Mauro, desafios
-Procura-se líderes
-Amadurecimento…
-Questões da ferrovia

-Índios e meio ambiente

-Silêncio mortal

Na ida, desde Cuiabá a realidade é formada pela presença de intensas atividades econômicas no campo. Lavouras e mais lavouras. Na rodovia carretas e mais carretas. Isso significa o trânsito de produção e de insumos em larga escala. Quando cheguei à Serra da Petrovina, cerca de 80 quilômetros adiante de Rondonópolis a paisagem não mudou mais até Araxá, a 1.300 quilômetros, em Minas. Lavouras de soja, milho, eucalipto. Tudo em larga escala. Tráfego pesado nas rodovias.

Para os habitantes urbanos de cidades como Cuiabá, ou do litoral, o preconceito é grande. Traduzem tudo como interior. E se é interior não merece respeito porque a imagem é a do atraso da ignorância e da pobreza. É de doer tanta ignorância. O uso de tecnologias é vasto, a posse de bens é grande e a qualidade de vida é invejável.

A propósito. Depois de Araxá, onde mora o meu tio Pedro, irmão do meu pai, e sua família, visitei e me hospedei na casa do amigo Tarcísio, em Campo Alegre, distrito do pequeno município serrano de Santa Rosa da Serra. Lá vivem ele e o seus irmãos e famílias, entre eles Geraldo. Estudamos juntos na escola média, em Campos Altos. Vivem do café de suas lavouras, com a melhor qualidade de vida possível. Bons carros na porta, todo o conforto material, tecnologia à mão, a menos de 300 km de Belo Horizonte. Internet, telefone celular, água e energia elétrica, asfalto. Mais do que tudo isso: paz e renda de boa qualidade.

Em Campos Altos visitei dois amigos: Joubert Bitencourt e Cleusa, e Miguel Célio Ramalho e sua família. Ótimas conversas e a mesma sensação de bem viver.

Essa é cara do interior que visitei. De lá até Brasília passei por Patos de Minas, um exemplo de riqueza e desenvolvimento à parte. Foi inevitável comparar a qualidade de vida daquela gente com a qualidade de vida urbana em cidades como Cuiabá e as cidades do litoral, por exemplo. Vida apertada, violência, renda curta, perspectivas de futuro bem complicadas.

De fato, o interior do Brasil que está na cabeça dos urbanos, não existe mais há pelos menos uns 20 anos. Saí de Campo Alegre morrendo de inveja do meu amigo Tarcísio e de toda a família. Vivem no paraíso.

Em outro artigo vou abordar a segunda face dessa viagem. Um país produzindo por conta própria pra alimentar um Estado atrasado, irresponsável, corrupto e gastador. Estenda-se às unidades regionais. Gigolôs de uma realidade que a política e a burocracia geral, incluindo os chamados poderes, não são capazes de lidar e mito menos de compreender.

Volto nesta semana a Cuiabá, dividido entre o entusiasmo da sociedade produtiva, e inércia burra do Estado que governa o país.

*ONOFRE RIBEIRO   é jornalista e escritor em Mato Grosso

CONTATO:   www.onofreribeiro.com.br   www.facebook.com/onofreribeiroda.silva.71

E-MAIL:     onofreribeiro@onofreribeiro.com.br   

Para os habitantes urbanos de cidades como Cuiabá, ou do litoral, o preconceito é grande. Traduzem tudo como interior. E se é interior, não merece respeito, porque a imagem é a do atraso da ignorância e da pobreza